QUEM VEM COMIGO

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

DESCRÉDITO

Trouxe da infância
a fome de poesia,
a mania
de pouco pano,
o olho grande
na cara macia...

e este descrédito enorme
no ser humano

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RECEITA PARA CAPTURAR FADAS

.
Deita na mata
uma rosa amarela
um jarro d'água
uma pedra bruta
um galho de cheiro
uma vela
um pau de canela
um monte de folhas
de macela...

E se acautela
por tras da cancela,
de sentinela,
que fada foge
porque toda ela

é donzela
(Elza Fraga)

domingo, 2 de novembro de 2008

PINGADO

.
GEMENTE

Sobrou
casa pra arrumar,
comida por fazer,
cão para cuidar,
flores no jardim
pra enfeitar a aridez
do
ai de mim



FALSOS VETORES

Não me dê flores,
beijos, promessas
falsos vetores
quando eu
...
só quero versos

RETIRADA

Recolheu a palavra,
encolheu a figura,
engoliu a vaidade
escondeu a verdade
colocou a viola
no saco

jamais imaginara
doesse tanto
um pé bem dado
no atras

E com vergonha do fracasso
e do não, claro e redondo,
Partiu pro nunca mais


REDENÇÃO

Toda mulher
faz poesia
com o corpo
ou com a palavra...

cada gesto afoito
cada marca no rosto
ou é poema
ou coito

Só a poesia
salva.


REMISSÃO

Cabeça baixa
ela rezava
e repetia
a Ave Maria.

Voltava pra casa
e se trancava
com o mulato
e o couro comia

E Deus perdoava
todos os dias!

(Elza Fraga)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AUTENTICADA

.
Esta cara estampada
como foto
é a minha, única,
marca dos meus anos,
passados, bem vividos,
pura de artifícios...
Porque eu sou isso
que exibo
e mostro,
sem esconderijos secretos,
sem artimanhas escusas,
sem esconder coisas sujas,
sem inventar biografia, foto
e fatos

Autêntica como a assinatura...
Limpa como água de regato

(Elza Fraga)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

MOSTRUÁRIO

RELAXA

Para com isso moça
a vida é poça
que se pula
e num segundo

acaba o mundo!
---------------

CORTO?

Ao cortar um poema,
desceu-me
uma tristeza
de ausência
de descriação
garganta abaixo,
olhei os pulsos...
E...

Por que não?!
---------------

ECONÔMICA

Sou de palavras poucas
Falo com o olho,
economizo boca.
---------------

PROCISSÃO DO TEMPO

Que o relógio
bata as horas
nem me apavora
mais
é a função dele...

O que me encafifa
e dá frio
na barriga
é o tempo acompanhar
a procissão
---------------

APRESSAMENTO

Escondo no fio
da navalha
o frio
que a alma cala...
Medo
de desvendar
o segredo
da morte

Ou
Quiçá apressar
a nefanda
tenho fobia
a fila
que não anda

(Elza Fraga)
.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

DIA DE MARESIA

.
Tudo é pouco,
todos surdos,
nada vale
o preço justo.

Só este dia,
com este sol e
este sal
grudado nas partes nuas
do seu corpo

traz conforto!

(Elza Fraga)

domingo, 21 de setembro de 2008

BORRALHO

(Histórias pra fazer ter medo)

Dentro de mim moram
uma moleca,uma senhora,
uma dama,uma sapeca
e uma doidivanas andadeira.
Convivem todas
de uma tal maneira
que meu interior é
quase sempre guerra...

Só vem a paz
quando você me desfaz
em borralheira!

(Elza Fraga)

ENIGMA

Um último beijo,
a garrafa vazia
ao pé da cama,
lençóis em desalinho,
sua roupa
espalhada pelo chão,
meu coração sentado
na beiradinha do colchão
fita,
pela vez derradeira,
seu jeito
no torpor do sono
e diz um adeus sem palavras,
só de pranto.

Até quanto de dor
suporta um ser humano?

(Elza Fraga)

GATO NO TELHADO

.
Tem gato no meu
telhado
Ouço o miado
arranhado
de fundo de garganta

Desce menino!
Faz arte
no meu quarto
é mais seguro

eu asseguro!

(Elza Fraga)

TERMINAL

A tristeza
hoje,
impertinente,
me fatiou a alma
para sempre


(Elza Fraga)

sábado, 13 de setembro de 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

DISSIMULADA




.
ARTE DE FATIMA QUEIROZ
POEMA DE ELZA FRAGA

MEU ERMITÉRIO

.
O meu céu
é um montão
de pontos cegos,
não nego.
Não há radar
que me previna a queda
ou a colisão.
Sou de leão,
mas tenho a impressão
que trago a lua
em aquário.
Sou forte e fêmea,
mansa e fluida,
desconexa e indiferente,
desconstruída li-te-ral-men-te...
ousada e retirante,
espiada, escondida!

Sou feita de vida
matéria não moldável
a qualquer gosto,
por isto tenho arestas exibidas ...
Como o desgosto que ostento,
linha a linha,
no meu rosto,
as minhas farpas também
caminham nuas...

Mas de todas as incertezas
que me cercam
a única certeza
que me resta
é que este mistério
em que fiz meu ermitério
me vem do fato
de ser apenas tua!

(Elza Fraga)

sábado, 16 de agosto de 2008

SURPRESA!...

Somos todos predadores, numa doida cadeia alimentar.
Nos alimentamos dos que vão enfraquecendo no caminho
e, assim, vamos matando, a cada passo, mais um pedacinho
da divindade que nos habita!



Numa estranha cadeia alimentar
você, meu predador,
se alimenta
das minhas entranhas
vorazmente!

Rumina cada pedacinho
e depois,
recostado no ninho,
candidamente,
palita os dentes...

O dia há de chegar
em que os papeis se invertam
e vou ser bem mais esperta
do que pensa ou deixa...
Vou começar meu festim pela cabeça
onde esconde seus tolos miolos,
como um tesouro .

E aí não haverá retrocedência.
Só anuência,
submissão, obediência...

Terei o predador domado enfim
dentro de mim,
que sempre fui a presa.

Devo gritar
-Eureka!
ou
-Surpresa?!...

(Elza Fraga

domingo, 10 de agosto de 2008

DIFERENÇAS

.
Poema adaptado para contação de histórias, nele as diferenças fazem o prato da balança oscilar, como um pêndulo maluco que nunca se detem na resposta e peso certo...



Ele morava na cidade.
Ela no campo.
Ele era formado em letras,
miúdas e graúdas.
Ela sonhava
e sua labuta era a roça.
Ele era usuário oficial
da cara feia.
Ela contava causos,
anedotas,
bebia pinga,
e ria de qualquer besteira.
Aos domingos ele ia ao culto,
de terno e gravata,
orar pro Deus só dele.
Ela? Vendia verduras da horta
na feira.
E se passou o tempo...
Um dia,
por estas peças que a vida prega
ou por ironia,
era setembro e era primavera,
seus caminhos se cruzaram...
Se conheceram.
Ele, por orgulho e vaidade,
disse nada,
mas lhe ofereceu uma olhada
de seca pimenteira
e uma flor roubada da roseira.
Ela por ingenuidade e tonteira
enquanto a flor despetalava
se entregava
E murchou no pé a sua vida inteira!
*******************
Até hoje me perguntam
o final desta história,
pois me sabem acompanhante
dos fatos...
E aí? Ele foi morar no campo?
Ela foi para a cidade?
E eu respondo a verdade: Não sei!
Só sei que no lugar em que ela
se entregara
hoje em dia tem uma roseira
onde só nasce flor despetalada...
Nunca,
nunquinha,
deu uma só rosa inteira!
*******************
(Elza Fraga)

sábado, 9 de agosto de 2008

PARTIDA


Meninas e borboletas
(Milton Dacosta)


A vida tem cheiro de bouganvilie florido. A morte, cheiro de sangue, deste mesmo sangue
que nos correu, vital, pelas veias por toda uma existência... Quando este amigo começa a nos passar seu cheiro doce é chegada a hora dos acertos, porque o tempo está expirando...
Quem diz que a morte é visita surpresa ainda não chegou ao seu limiar! A morte traz cheiro de sangue e ventos diferentes que só o padecente sabe e sente...


Quando eu me for
não rasgue a poesia
que saiu da minha mão
porque ela guarda
um muito da minha vida,
pedaços intensos
do meu coração...

E se lhe perguntarem,
afinal,
de que me fui,
responda só isso:

Meu coração não aguentou
tanta mistura
-Beleza com cinismo,
sorriso com maldade.
E sentiu saudade
de uma outra vida,
não vivida,
diferente, iluminada,
se rendeu por fim
indo buscar outras estradas,
--------------------------------------------
além de mim!

...

(Elza Fraga)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

PRECISÃO

Tem vezes que só uma fuga estratégica, para um lugar além do fim do mundo, nos salva a alma... Mas, se for uma solidão a dois fica mais fácil o resgate e, aí, a salvação é certa e para sempre!


O que me irrita
no povo
é esta mania
de viver em bando
como certos animais.
Detesto coletivo
ajuntamento
hipocrisia
vida social.
...
Ai quem me dera
pudesse ter,
nesta terra,
apenas uma tapera
como bem material.
Um moreno dentro dela
destes que gostem
de cheirar cangote
e que suporte
meu mau humor matinal
e esta mania
de ser solitária
de fugir pra dentro,
lá no meu fundo
onde ninguém me alcança...
...
O resto do mundo
gente, etiqueta,
critérios, manual,
me cansa!

(Elza Fraga)

sábado, 2 de agosto de 2008

MEIO MORTA

(É sempre um grande estranhamento o ir e vir dos amores...
Como a onda lambendo a areia da praia e depois recuando...
É sempre um jogo onde ninguém ganha, mas vai deixando
pedaços perdidos...)

-

Você chega
nem pede licença
me empurra sua presença
cara a fora
corpo a dentro
como se eu fosse
só uma qualquer
achada na esquina.
Me revira todos os avessos
e eu deixo
e ainda torço o queixo
pra ver melhor
a sua ousadia...
Depois sorrateiro
vai embora
e o silêncio que fica
machuca o meu grito
e repito
como uma maluca
seu nome
para o firmamento
que não liga
não entende, não dá bola.
só falta responder
um redondo
"não me amola!"
Deito e rolo
na cama vazia
choro torrentes
de lágrimas frias
e me pergunto mil vezes
o porque
de ainda abrir
a porra desta porta...
E é aí que eu
me rasgo, meio morta,
por você
(Elza Fraga)

terça-feira, 29 de julho de 2008

APENAS

(O passado sempre começa no momento vivido...
O momento vivido nunca é presente,
passa num piscar de olhos e fica, na memória,
denso, pesado!
Somos apenas passado e futuro...
O presente não existe!)
-
Sobrou apenas
- do passado -
esse meu riso
escancarado, farto!
Que o resto
- o mais belo -
o tempo foi levando,
foi lavando,
deixando desbotado
e impreciso.
A face esfacelada no espelho.
O cabelo que perdeu o colorido.
O saldo positivo da míopia agravada
pra não contabilizar,
muito de perto,
o prejuízo!
Sobrou para você
apenas o meu riso
escancarado, farto
-------------------------
passado a limpo!
(Elza Fraga)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A FILA ANDA

Que um relacionamento não seja prisão;
que não seja enfermaria nem muleta;
mas que seja vida, crescimento
(turbulências eventuais incluídas).
(Lya Luft)



É no mínimo estranha
esta sua maneira torta
de encarar os fatos...
Escondendo o sujo
dos sapatos
no tapete
deitando a larga pança
numa rede
assobiando baixo...

Enquanto isso se retira
de fininho
da história,
apaga toda ela
da memória
brinca de cachorro morto,
num pressuposto
que nada mais
tem a ver com isso!

Vamos cair de cabeça
na real,
virar a mesa,
mudar o rumo desta prosa,
recomeçar de onde demos pausa.
Resolver de uma vez por todas
nossas pendências e pendengas...


E se afinal
o final
for a ruptura
que aguente depois
de cara dura
sem cair no choro...
Tenha decoro!

Porque eu,
meu agora caro amigo
antes amado,
já coloquei seu nominho
ad eternum
no meu bloquinho
de casos passados!

(Elza Fraga)

terça-feira, 8 de julho de 2008

RUMO AO NADA

.
All my troubles seemed so far away. Now it looks as though they're here to stay. Oh, i believe in yesterday...
(YESTERDAY / JOHN LENNON)

(Todos os meus problemas pareciam tão distantes. Agora, porém, parece que eles estão aqui para ficar. Ah, eu acredito em ontem ...)


Respiro a escuridão!
Sorvo dela cada gole
trazido pelo vento.

Olho pra frente
e só vejo
o intransponível muro,
parede imensa
feita de escuro.

Não há mais tempo.
Não há mais sorte.
Não há mais nada
nem mesmo morte!

Perdi - à toa -
a chave do futuro!

Não há mais uma condução
um trem, um bonde, um avião
que me transporte
só esta corrente negra
que me arrasta
quando passa
pro nunca mais.

Estaco exangue!

E ainda assim
não há uma só gota
de ódio
no meu sangue.

(Elza Fraga)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

SÓ A ALMA ESCREVE UM BOM POEMA

Para fazer poesia é preciso
uma boa dose de vida vivida
avidamente
sofregamente...
É preciso saber a medida- exata -
do sonho, do encanto, da magia.
É não ter vergonha da mania
ou do vício
de ser feliz a toda e qualquer hora.

É preciso aceitar que a inspiração
quase nunca existe,
fica de fora
neste exercício...

O que vem de dentro,
o que não tem jeito
e nem controle,
é a alma desnudada dos conceitos
e mistérios
Ela é a boca que fala
a mente que pensa
a caneta que escreve.

Para fazer poesia é preciso
apenas, ter alma,
uma calma e sonhadora alma
que fica a espera, a espreita,
e quando a poesia vem
ela, num ágil movimento,
mais veloz até que o pensamento,
a pega, a aceita,a molda, a conduz...
E dá a luz ao poema!
E este solto, livre, sem amarras
a recompensa
com a forma perfeita
fugindo pelos dedos a fora...
E pensa
por si só!
Se sente pronto,
vai embora,
nunca mais é seu!
O poema é ingrato
e não pertence,
nunca,
a quem o escreveu...

(Elza Fraga)

sábado, 28 de junho de 2008

PARABÉNS "NENEM FRANCISCO FRAGA"






Esta criaturinha linda aqui acima, tão confiante no seu soninho, está fazendo onze primaveras bem vividas, todas ao meu lado, minha sombra e minha luz!



PARABÉNS, AMIGO!

Este menino inquieto
ainda de olhar esperto
que sempre me faz sorrir
é de todos os amores
o mais mimado e querido...
Presente dado por Deus
pra alegrar os meus dias

pra preencher o vazio
que as vezes teima em ficar
fazendo frio em minha alma

Esta segura calma,
este abandono do sono,
esta confiança em mim
me faz acreditar que a vida
pode ser simples assim
como o sono de um amigo

Dorme, minha criança,
que sempre vou estar aqui
a velar pelo seus sonhos
recheado das lembranças
dos bons momentos vividos
aqui neste nosso plano.

Parabéns, melhor amigo,
parceiro de tantos anos!

(Assinado : Mamãe)

DONA LIBERDADE

Liberdade me dê asas
me ensine a voar
me espante desta toca
que minha alma prisioneira
moribunda se sufoca
Me dê suas asas, senhora,
que preciso voejar
minha alma sente ânsias
de viagem
de fugir deste meu corpo
e ter as rédeas da vida
tomada e domada enfim.

Me dê asas, liberdade,
que quero fugir de mim.

(Elza Fraga

quinta-feira, 26 de junho de 2008

C'EST LA VIE...

Esse é um poema onde coube, sem sobrar e sem faltar, uma vida inteirinha porque...
Às vezes uma vida inteira cabe num poema...


...
Amei alguns homens,
uma tarde de inverno,
umas poucas crianças.
Matei a esperança.
A fome e o frio.
O meu próprio inferno
e o tempo vadio.
Escrevi um poema
de pena da sorte,
sentada no leito
– um vazio no peito
e a certeza da morte!
E fiquei – masoquista
– por pura maldade
chorando no ombro
da tua saudade.
C'est la vie, mon ami
c'est la vie!
(Elza Fraga)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

DIA DE ENAMORADOS

.
Hoje é dia de beijar na boca
de fazer besteiras
de sair de louca
de usar perfume Francês
Hoje é dia de virar freguês
daquela loja cara
de lingerie importada
que se rasga
a primeira investida mais ousada
Hoje é dia de gastar a grana
num salão bacana
sem se preocupar
se o cartão vai estourar
no final do mês.
Hoje é dia de sonhar com a sorte
do sócio lembrar
de trazer as flores e o vinho do jantar
acompanhados do melhor sorriso
e da força pra agüentar o prejuízo.
Hoje é dia de amar com jeito
ser bruxa, feiticeira,
fada encantada
mulher, menina, nada
e tudo! numa só tacada.
Hoje é dia de ser feliz
pra sempre
aproveitar fazer chamego
dormir no aconchego,
de conchinha
--------------------
De acordar princesa
e ir dormir Rainha!

(Elza Fraga)

terça-feira, 10 de junho de 2008

O AMOR É AMARELO


ARTE DE FATIMA QUEIROZ

.
ARTE DIGITAL
Hoje, para acompanhar o poema, trago uma belíssima imagem da amiga Fatima Queiroz, que cria beleza e arte, poesia visual, sem necessidade de palavras... Acompanha um poema inspirado em tão perfeita montagem... Não tão belo, pois existem imagens que, por si só, contam histórias, poetizam a vida e nos dão ânimo e alento pra continuar na estrada. Parabéns, Fatima, seus digitais nos dão um retrato perfeito da pessoa especial que você é!





O amor não é vermelho
esta cor pertence a paixão
Não é rosa,
pois rosa é só perfume, cheiro.
Não é azul, azul é o infinito céu.
Não é cinza, degredo,
tempo frio e vento.

O amor é amarelo!
Como um coração
que deixou o sangue escorrendo
e se abriu para entrar o sol
e se fazer para sempre verão.

Porque amor é rebelião
não respeita tempo,
cor ou estação!

(Elza Fraga)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

POEMA NOS OLHOS

.

(Tem dias em que o poema se sente tão estranhamente melancólico, que nem sai de casa, prefere ficar,
ensimesmado, morando no fundo do olho nu...)


Eu tive um poema nos olhos...
Espreitou-me a madrugada inteira.
Se delineou, se enfeitou, me envolveu...
As pressas se rompeu
-torto, não se escreveu!

Eu tive um poema nos olhos...
Absorto, calmo, contemplativo.
Me estreitou
-apertado
como abraço de amigo.
Deitou-se a cama comigo,
comigo adormeceu,
se esparramou, se perdeu,
mas teimoso
ainda assim não se escreveu!

Eu tive um poema nos olhos
que preferiu morar mudo
no fundo dos olhos secos
com pena do mundo!

(Elza Fraga)

domingo, 25 de maio de 2008

SÓ LAMENTO

.

Tudo o que escrevo ou falo
apesar da seriedade intencional
a alguns ouvidos soa falso

Não registrei a patente da verdade
mas a da mentira também não
e muito menos a da dubiedade

Se acreditam, se desacreditam
da transparência com que me apresento
desculpem

mas só lamento!

(Elza Fraga)

sábado, 17 de maio de 2008

SOBRE ASSUNTO NEM TÃO NOVO...

Família Nardoni, unidos e com discurso desafinado.

Considerações sobre um caso nada obscuro:

A cada dia que passa me convenço mais que o mundo entortou.
Olho e tomo como exemplo este rumoroso episódio da menina
penalizada com a morte por ter sido vítima de um engano genético,
ter nascido de um monstro. Isso é uma opinião pessoal, mas me
parece que a maioria do povo está com a mesmíssima "opinião pessoal!"
Mas também não posso deixar de perceber que monstros se criam,
são feitos, ou deformados, por uma educação que, na maior parte das vezes,
deseduca por proteger demais. Uma educação que corre com o lenço,
antes mesmo da lágrima. Corre com o prato antes da fome. Corre com a desculpa antes do erro vir a público. Corre com o socorro e o apoio antes
da penalização.
Olhando pela ótica do avô da menina, o filho dele, um encostado que vive
as suas expensas, pois apesar de trabalhar com ele, quase nunca é visto no escritório, é inocente. Ainda pela ótica do avô, a mãe da menina mentiu
em entrevista, o povo anda fazendo julgamento sem provas e sem direito
de fato, pois quem julga é a justiça. Mas ele zomba da justiça a todo momento com seu meio sorriso de escárnio. As mentiras do filho dele não precisam ser explicadas, é só passar a página e deixar cair no esquecimento. Quer um exemplo? Alguém arrombou a porta e invadiu o apartamento!... Isso foi dito e tem testemunhas, mas ah, deixa pra lá e vamos partir pra invenções mais mirabolantes.
Onde a dor, o luto, a indignação, o estupor pela morte da neta?
Isso a ele não interessa, o filhinho dele está sofrendo, pobre coitadinho.
E o sofrimento de um ser que nem idade tinha para se defender?
Ele nisso não fala, não é o foco. O foco dele é tentar fazer com que todos nós passemos por insanos, só assim ele poderá resgatar a imagem de normalidade do "homem" que gerou, mas que nunca deixou virar homem de fato.
Este filhinho de papai, tentou várias vezes o exame da OAB, não passou.
Eu sou leiga no assunto, me respondam vocês, ele é advogado ou não?
Ele "trabalha" com o pai, mas lá não comparece, de novo me iluminem,
ele tem emprego ou só salário (ou mesada!)?
O apartamento deste filhinho, e o da irmã também, foi comprado pelo pai.
Isso foi fartamente publicado pela imprensa.
Resumindo: Sempre foi sustentado, apoiado até nos erros, nada lhe foi cobrado, nada lhe foi ensinado de ética!
Eu começo a pensar que, se ele passar de suspeito a culpado num julgamento sério, sem interferências ou sem os atenuantes que o dinheiro infelizmente compra, pois é com grana alta que se paga tres advogados,
o pai será tão, ou mais, culpado que ele.
Mas o que realmente me deixou estarrecida foi o vídeo amador gravado durante a tragédia e posto a luz! Onde anda a mãe deste indivíduo, que gritava sua dor, aos berros de " quero o assassino da minha neta aqui, na minha mão". Não me pareceu teatro, ela me convenceu da sua total ignorância dos fatos e da veracidade do seu desespero. Coisas que o pai / avô
e a irmã / madrinha, não conseguiram passar: Verdade na dor!
Mas, como todas as peças que atrapalhavam, esta também sumiu... É urgente que se cobre a presença desta mãe. Ela não pode ter se evaporado de uma hora pra outra.

Bem, quanto a madrasta, todos nos fartamos com histórias infantis onde elas
sempre eram bruxas más! Esta me parece apenas uma descontrolada, que por ser muito melhor de berro, dominava o marido e o deixava sem ação ou reação
perante o seu linguajar e o volume de decibéis que emitia a cada desavença.
E ele, assustado com os surtos e seus desdobramentos e efeitos, telefonava pro papai. Era assim que a família era unida, pro bem e pro mal, pra vida e pra morte!

Não estou acusando, não estou inventando. Todas estas considerações acima foram tiradas de notícias publicadas. Mas urge que este pai / avô se redima e ensine, embora um pouco tarde, a seu filho, o valor da verdade, seja ela qual for. É notório que todos sabem mais do que dizem.
E quanto a confissão, e novamente é o "meu" ponto de vista, já foi feita faz tempo... No exato momento em que ele e a madrasta se recusaram a participar da reconstituição para não fornecerem provas contra os próprios.
Quem não tem culpa não pode fornecer provas contra si, nem se esforçando muito!

E por favor, entreguem, como foi pedido (assim que acharem, claro), o assassino desta pobre criança, vítima de um descontrole de quem quer que seja, nas mãos desta avó paterna, sofrida e sumida... Talvez ela faça por ele bem melhor e mais que qualquer julgamento, pois, salvo grave engano, é a única capaz e lúcida neste saco de insanos.

(Elza Fraga)

sábado, 10 de maio de 2008

VIDA




Pobre, suja, desonrada,
pelos becos violada
por homens que nem tem rosto.
A dor, o ultraje, o desgosto
se transformam em semente.

Barriga cresce, aparece,
empina, torce, contorce
e espirra mais um ente
pra esta peste de vida...
Chega mais um pra desdita
enquanto o beco anoitece.

Demente canta cantigas
de lembranças esquecidas.
E chora ao tempo que ora
pedindo pra que esteja morto
o seu pobre anjo torto...

Mas os santos, adormecidos,
não ouvem o seu pedido
e então entre detritos
o vagido vira grito
urgência, fome de vida!

Tenta calar com um peito
seco, murcho e inútil veio.
E se consola a bendita
é só mais um nesta lida
com a tarefa maldita
de disputar com os ratos

espaço, teto e comida...

(Elza Fraga)