QUEM VEM COMIGO

sábado, 21 de fevereiro de 2015

ESCURIDADE



Paira uma perpétua noite
debaixo de céu encoberto,
nem um raio de luar
vence o negrume
pra iluminar
a alma dos despertos,

bichos alertas
vagam seus desertos...

Ao longe uiva
um cão desesperado
perdido da matilha

girando louco
na roda da trilha
dos desamados...

Nem a luz
d'um simples vaga-lume
alumia essa noite inquieta
onde os homens
e seus pesadelos
rolam cobertas...

Se amanhecer
nada será o mesmo,

se amanhecer
só sobrará o medo

pra acalentar
os dias de degredo,

sem uma única
casa de porteira
e
janela aberta.

[elza fraga]
 — 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

FINITUDE



Muito tempo faz
que só durmo
quero novamente
o turno
das manhãs
de sol,
a delicadeza
do espreguiçar
sem medo,

o acordar
com a chave do caminho,

o barulho do passarinho
na janela,

aguar as minhas plantas,
cheirar a minha hera,
sorrir
pras flores que se abriram
durante a primavera,

desvendar
o segredo da madrugada...

Depois uma taça de vinho,
uma rede
pro corpo cansado,
seu abraço
apertado,
morrer

mais nada.

[elza fraga]

HODIERNIS



Existiu um tempo
faz tempo
em que pessoas
eram só isso:
gente

houve de repente
mistura de raças
ou mudança de era?

Cruzamento com zumbis?
Talvez...

Nem sei...

Agora
toda gente
é misto
de bicho peçonhento
com verme fedorento

e traz imerso
em seu esconderijo

antes alma
hoje ego

o símbolo medonho

o pentagrama inverso

os chifres denunciam
a coroa...

O arreganhado da boca
e a postura de ataque

diz claro

ou corra
ou mate!

[elza fraga]