QUEM VEM COMIGO

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Blogagem coletiva : 26 de junho de 2009 - dia Internacional do Combate às Drogas

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DROGA DE VIDA
.
Por onde andará o brilho
do olhar do meu menino?
Quem foi que tirou a luz?

Foi o moço da esquina
que prometeu a viagem
e forneceu a passagem
em forma de pó
e cruz

Meu menino viajante
querendo desbravar mundos
lá onde moram estrelas
calçando ruas azuis
embarcou
e me deixou
de olho fito na estrada
passando a vida
sem vê-la,
esperando desgrenhada

E nunca mais fui a mesma
e nunca mais foi o mesmo

Agora não posso nada
contra os moços sorrateiros
que como sombras aparecem
com o elixir milagroso
que tira o desespero
alivia a tremedeira

promete a cura do medo

Se pudesse
eu tiraria
o meu menino do mundo
e de novo o geraria
numa gravidez pra sempre

nunca que o pariria
protegido no meu ventre

aquecido escutando
as cantigas de acalanto
sem ter medo de careta

Dorme eterna criança
aqui onde a dor não te alcança
não tem boi de cara preta

(Elza Fraga)

terça-feira, 23 de junho de 2009

POUCO

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De você não quero uma única palavra
por menor que seja
destas que cabem num bolso interno
de casaco de inverno

não quero um adjetivo
destes que compram o sorriso

não quero um pronome
dos que anunciam:
pronto
lá vem meu nome
deslizando lingua abaixo

não quero um verbo,
muito menos conjugado no futuro
acenando com o eterno

quero só a esperança prometida no olhar
[se derretendo mudo]
de dias divinos
com trombetas, anjos, fadas, querubins,
e você ao centro, nu

dançando só pra mim

(Elza Fraga)

domingo, 21 de junho de 2009

SOLIDÃO

.

Solidão
quando não passa ao largo
mata.

Solidão
quando gruda
no couro do vivente
deixa doente
enfraquece
tira a calma
ensandece
muda a alma

Solidão arranca a raíz
em vez da poda

Solidão é foda!

(Elza Fraga)

domingo, 14 de junho de 2009

DESISTÊNCIA

.
Minha alma guardou
dele
o cheiro
o tempero ardido
o suor do corpo
o gosto de sal
o peso do gozo
as marcas do rosto

a chave da porta

depois passou a tranca
nas janelas
banhou-se de alfazema
vestiu o traje branco
das almas sem revolta,
deitou-se na cama
recusou o ar

e quedou-se morta


(Elza Fraga)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

VONTADE

.
Vontade louca
de comer teu cheiro
de cheirar a boca
de prender inteiro
meu corpo
nas tuas pernas
entrelaçadas
como se nada mais
tivesse serventia
gosto, jeito

ou valia

Vontade
de pairar vadia
na tua cabeça
bem no fundo
onde moram
os medos
do teu mundo
e espantar
a covardia
que corrói a mente
e te faz descrente
acreditar no fim
do mundo

no fim de mim

Vontade
de num assomo doido
te dar uma história
novinha
diferente
bem mais coerente

crua
nua

sem salamaleques

apenas a mão presa na tua
até ficar dormente
os olhos dentro
do teus olhos
e o riso misturado e junto
indo bem além
da gente

para todo o sempre
amém

(Elza Fraga)

terça-feira, 9 de junho de 2009

MEMÓRIA

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Plante uma árvore,
faça um jardim
tenha um filho
escreva um livro
e leve a vida

sem mim

e me pense
por um momento
antes de dormir
pelo resto
das tuas noites

insones

e tenha sempre
pesadelos
cheios de medos
de urrar meu nome

na hora errada

assim
como um castigo
uma praga rogada

uma melancolia
vinda do nada
um arrependimento

uma trama

enquanto outra
divide a cama,
divide a mesa,
divide o fardo

eu fico,
parada
eterna,
calma
nos pensamentos

te machucando
a alma

(Elza Fraga)

domingo, 7 de junho de 2009

Selo "Vale a pena acompanhar este blog!"




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Recebi de Márcia Sanchez Luz o selo Vale a pena acompanhar este blog
O selo violeta é premio e representa, segundo os seus criadores,
"as sensações que a cor violeta traz para a nossa mente".
Ele é dado àqueles blogues que têm algumas das sensações da cor violeta, a saber:
magia, encantamento, graciosidade, magnetismo e tudo aquilo que parece mágico.
Espero que aprecie e dê continuidade, fazendo o mesmo com os blogs que você
assim considera. Escolhi os seguintes blogs que distribuem poesia pela blogosfera:

ARTISTAS_SOLIDÁRIOS
Compulsao Diaria
Cosmunicando
Lilian Maial
Metamorfraseando
NUDEZ POÉTICA
Per - Tempus
© rua do mundo
Suave Coisa

sábado, 6 de junho de 2009

MÃO DUPLA

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Ele levara
o restinho do juízo
dela
de bagagem

ela ficara,
a cara na margem
da estrada
esperando
sem revolta

que a vida tivesse
mão dupla
e passagem
de volta

(Elza Fraga)

SANGRAR POEMA

.
partir o limo
limar a vela
velar o sonho
sonhar quimera

amar a folha
mais que a flor
florir o sumo
sentir o ardor

arder a veia
sangrar o mar
cuspir centelhas
atar os laços

parir poemas
aos pedaços

Juntar os cacos

(Elza Fraga)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Dia Mundial do Meio Ambiente



.
FÚRIA DE GAIA

Sinto o teu cheiro

e sinto o teu medo
quando treme as entranhas
e cospe fogo limpo
das montanhas

de onde deveriam descer
só rios
descem pavios
incandescentes

e penso em acalanto
mas nem o melhor canto
vai te libertar

da sanha
humana


(Elza Fraga)

PRECISÃO

.
Preciso de cachorro
pra latir na minha chuva

de homem pra esquentar
o meu inverno

de poesia
pra refrescar
o inferno
que as vezes teima
em morar dentro do peito

Preciso de lua cheia
pra dar jeito
no meu escuro

e muita estrela
pra iluminar
o muro
onde debruçam as flores
do quintal
vizinho


de passarinhos
pra cantar
minhas cantigas

de fotos novas
pra moldura antiga

de desaforos
pra gritar pro mundo

Preciso de amigos
e amores
pra amaciar as dores
lá do fundo
do coração

Preciso de mão
na minha mão
olho no meu olho
e natureza
explodindo colorida

Preciso de vida.

(Elza Fraga)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

POETAR





Arte digital
Fatima Queiroz
Brasil

.
Poetar

arte de escrever,
escrever
embolar papel
e pensar
até fundir os parafusos
tortos

Poema feito
brilha no escuro
conta a que veio
mas antes seca o suor
tampona onde doeu
e esconde o duro
que se deu

(Elza Fraga)

SOBRAS

.
Se o amor fosse feito dos retalhos
sangrentos
que sobraram da gente

Seria uma peça de mau gosto
um contragosto
uma piada contada num enterro

Um erro!

(Elza Fraga)

CONCLUSÃO




.
Enquanto
Fico aqui
pastando,

torrando
os meus miolos

moles


chego a conclusão

viver é o problema
não a solução

(Elza Fraga)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

CONSELHO

.
Sem grito, sem riso
sem choro, sem nada

apenas

a mão estendida
a cara lambida,
sofrida, chorada
largada na estrada

Enfia nos bolsos
as mãos recolhidas
e os lanhos do rosto
a sujeira invasiva
o medo
o desgosto

e parte pra outro!

(Elza Fraga)