QUEM VEM COMIGO

sábado, 2 de junho de 2012

PERDIDA NOITE



Frita
inquietada no leito
a carne insone
 
que a dor consome.

Nada mata a fome
do sono
que não veio

embalar meu seio.

Só deixa o rastro
ardente
e zombeteiro

vincando o travesseiro.

Quiçá virá
com um pouco de sorte
numa noite menos quente

abraçadinho
com a Dona Morte.

[elza fraga]

RECITAL


Não expirar
prender o ar
pra sempre
até inflar o coração e 
explodir a mente,

só pra constatar
quantos poemas
saltarão
desta explosão,

se virão inteiros
ou em cacos.

Depois
ser forte
pra catar
macabramente

miolos misturados
a pedaços
de poesia

e,
confrontando a morte,
perdendo o medo,

fazer um recital
do próprio enterro.

[elza fraga]

ALEGORIA DO NADA



Há que se escrever poesia
todos os dias
num ritual
 
exorcizando
o bem e o mal

até que nada sobre
de valia
apenas palavras

desmembradas
sem sentido
nuas
dentro do vestido

mente seca
alma vazia.

Alegoria
de um infinito Nada
servindo
de ponto final.

[elza fraga]