QUEM VEM COMIGO
sábado, 15 de agosto de 2015
A DO ESPELHO
Quem me ama e me conhece...
Quem sabe das minhas preces,
não é quem me sabe sua!
É aquela que, do espelho,
me olha com olhos de medo
nas noites frias, sem lua!
[elza fraga]
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
O TERCEIRO ATO
Belo não é a pele lisa,
sem vincos,
sem identidade.
sem identidade.
Belo não é a imaturidade
do sorriso perfeito
abrindo a juventude.
do sorriso perfeito
abrindo a juventude.
Belo não é o sabor doce da boca não colhida,
as mãos nas formas sem defeito,
a imponência da inquietude
batendo no peito.
as mãos nas formas sem defeito,
a imponência da inquietude
batendo no peito.
Belo é o sangue estuante nas veias
sinalizando a saída
nas curvas da vida,
sinalizando a saída
nas curvas da vida,
é o peso dos anos curvando a fronte,
é a fonte que se bebeu
até a euforia.
é a fonte que se bebeu
até a euforia.
Belo é a certeza de saber
que está vindo a alforria.
que está vindo a alforria.
E, mesmo sendo noite
e lua cheia,
já se pode morrer
antes de amanhecer o dia
e lua cheia,
já se pode morrer
antes de amanhecer o dia
descer o pano,
vagarosamente
vagarosamente
enquanto se levita pra coxia...
(elza fraga)
SÓ?!...
Partiu como chegou,
num parto inverso,
deixou o cheiro
do seu verso derradeiro,
um buraco no meu peito
e muita dor,
num parto inverso,
deixou o cheiro
do seu verso derradeiro,
um buraco no meu peito
e muita dor,
e os que não entendem
me explicam
o que restou,
me explicam
o que restou,
professores
formados em incompetência
e desamor:
formados em incompetência
e desamor:
Só uma flor...
(elza fraga)
SÍNDROME DO CAOS
Sangra coração
que o mundo está lhe retalhando
que o mundo está lhe retalhando
com tal dose de sadismo
que daria pra colorir
de vermelho
o infinito
de vermelho
o infinito
e ainda sobraria
grito.
grito.
(elza fraga)
APOCALIPSE
...Haverá dor e ranger de dentes [Mateus - 24, 51]
Aceite
minhas murchas flores
minhas dores,
meu frio suor,
meus anos
vencidos,
meu peso alquebrado
e curvado
ao que não pude
resolver, consertar
ou construir.
minhas murchas flores
minhas dores,
meu frio suor,
meus anos
vencidos,
meu peso alquebrado
e curvado
ao que não pude
resolver, consertar
ou construir.
Aceite meu sorriso
tatuado
e meus olhos marejados
desmentindo o riso.
tatuado
e meus olhos marejados
desmentindo o riso.
Aceite todo o sofrimento
que minha alma teima em dividir
e se possível
tente não sofrer
junto comigo
aprenda a difícil arte
de fingir.
que minha alma teima em dividir
e se possível
tente não sofrer
junto comigo
aprenda a difícil arte
de fingir.
Tempo virá em que
clamarão pelos céus
os arrependidos
clamarão pelos céus
os arrependidos
e não serão
- sequer -
- sequer -
ouvidos.
[elza fraga]
HISTÓRIA PARA ADORMECER O MEDO
Repetiram tanto
a história inventada
que a verdade (de verdade!)
se cansou
de viver a louca fantasia
de fingir que era lenda
alegoria,
a história inventada
que a verdade (de verdade!)
se cansou
de viver a louca fantasia
de fingir que era lenda
alegoria,
e se rebelou.
Despiu a renda
que lhe cobria o despudor
Saiu a rua nua
das palavras
que lhe havia
servido de engodo e rouparia
e ainda enfraquecida dos grilhões
que lhe cobria o despudor
Saiu a rua nua
das palavras
que lhe havia
servido de engodo e rouparia
e ainda enfraquecida dos grilhões
se libertou.
Mandou embora o medo
se coloriu com a tinta
dos imprudentes
se arrastou
com as patas do amargor
bebeu toda a fonte
da coragem
se coloriu com a tinta
dos imprudentes
se arrastou
com as patas do amargor
bebeu toda a fonte
da coragem
e alçou voo.
[elza fraga]
DESENXERGAMENTO
Meu olhar esconde o cisco
que me turva
a vista
que me turva
a vista
só no a prazo
comigo
comigo
enxergo em módicas prestações.
E se me presto a vida
e ainda sirvo a esse deus
intolerante e sádico
chamado tempo
e ainda sirvo a esse deus
intolerante e sádico
chamado tempo
é porque devo isso
ao fator que me atavia
ao fator que me atavia
- e orna de sombras as coisas
que desenxergo -
que desenxergo -
a miopia:
minha saída
e meu ponto cego.
e meu ponto cego.
[elza fraga]
TECE-TURA
Observo a trama
a tecetura
a tecetura
que ligeira
a aranha tece
a aranha tece
tão obscura teia
com que
nos vestem.
nos vestem.
[elza fraga]
SETA DO TEMPO
Desculpe se não uso
a palavra
coletivo
a palavra
coletivo
sou de um tempo
em que encontro de poeta
era tribo
em que encontro de poeta
era tribo
era amigo
no coração
do amigo
em abraço
no coração
do amigo
em abraço
selando a amizade
carimbando a poesia
carimbando a poesia
livro improvisado
xerocado
grampeado
e distribuído
xerocado
grampeado
e distribuído
e cachaçada
até raiar o dia.
até raiar o dia.
então
continuo à moda antiga
continuo à moda antiga
porque foi no passado
que larguei as malas
e desci da vida.
que larguei as malas
e desci da vida.
[elza fraga]
NA RETINA
De tudo que registrou
minha retina
retive pouco
minha retina
retive pouco
um quase nada
nebuloso, triste,
amarelado
pelo tempo
tão menino
nebuloso, triste,
amarelado
pelo tempo
tão menino
(corredor desatinado)
que apaga
do quadro da memória
com seu apagador mágico
que apaga
do quadro da memória
com seu apagador mágico
a que, teimosa,
insiste
em ficar viva
insiste
em ficar viva
ao virar o corredor
e girar o olhar
e a maçaneta
e girar o olhar
e a maçaneta
descobri
só me sobraram
as borboletas.
as borboletas.
[elza fraga]
RECEITUÁRIO
Não quero grana
sobrante
no final do mês,
a ausência
ingênua do mistério,
seta mostrando
o caminho sério,
vida mansa em dias
sobrante
no final do mês,
a ausência
ingênua do mistério,
seta mostrando
o caminho sério,
vida mansa em dias
movidos a tédio.
Talvez
só um remédio
que restaurasse
a alegria
pra todo dia santo
- amém! -
só um remédio
que restaurasse
a alegria
pra todo dia santo
- amém! -
também
uns chocolates suiços,
meia dúzia de amigos
de verdade,
umas palavras boas
de fazer poema,
um cachorro,
um pé de alfazema,
o sol descendo pelo morro,
uns chocolates suiços,
meia dúzia de amigos
de verdade,
umas palavras boas
de fazer poema,
um cachorro,
um pé de alfazema,
o sol descendo pelo morro,
cairiam bem.
Que quando bate
essa vontade de chorar
no peito
até cansar o olho
essa vontade de chorar
no peito
até cansar o olho
desacorçoa um desconsolo
tão cretino,
tão cretino,
viro ferida aberta
nada me dá jeito
nada me dá jeito
e a semana vira só segundas-feiras
e nunca mais que vivo
novamente
novamente
um domingo.
[elza fraga]
ILUSTRAÇÃO:
DESCONSOLADO - 1907
(Witold Wojtkiewicz - Polônia, 1879 — 1909)
Têmpera sobre madeira, 65 x 80 cm
Museu de Naradowe, Posnan, Polônia
DESCONSOLADO - 1907
(Witold Wojtkiewicz - Polônia, 1879 — 1909)
Têmpera sobre madeira, 65 x 80 cm
Museu de Naradowe, Posnan, Polônia
EM VERDADE VOS DIGO
Adormecer
acordar talvez
no nunca,
acordar talvez
no nunca,
esperar a vez
na fila dos zumbis,
na fila dos zumbis,
ficar por aqui
na utopia
na utopia
que ensandecer é coisa fina
só pra gente
inteligente
só pra gente
inteligente
que abomina
a lucidez
por cretina
a lucidez
por cretina
e acredita
na volta
de um salvador
na volta
de um salvador
que não sai daqui,
nem Dali,
nem Dali,
só espia
pelas beiras das cortinas
pelas beiras das cortinas
e se ri...
[elza fraga - em minúsculas pf]
POEMA TONTO
Poemei-me
em versos brandos
tentei ser o que não era
- e não sou! -
(sou fera,
esqueci
faz tempo
paz e amor).
Saiu só verso quebrado
e de muletas
o coitado
do poema
segue aos trancos
e aos barrancos
sem paradeiro
sem eira nem beira
sem vontade
própria
com crise de identidade.
Sente saudade
o infeliz
dos poemas que não fiz...
[elza fraga]
PLANETA MEDO
Não sei se fico
se vou
se vou
se voo
se me escafedo
se me escafedo
só sei que aqui
onde estou
onde estou
só mora
o medo!
o medo!
[elza fraga]
TRANSBORDAMENTO
Essa casa que me prende
em suas paredes caiadas
essa vida que me apaga
essa dor que não tem peito
que aguente
em suas paredes caiadas
essa vida que me apaga
essa dor que não tem peito
que aguente
essa tristeza danada
escorrente
que me mela
as beiradas
escorrente
que me mela
as beiradas
ai que saudade do tempo
em que o mundo era meu ninho
e trançado de colorido
cantava no meu ouvido
palavras de acalanto
em forma de passarinho...
em que o mundo era meu ninho
e trançado de colorido
cantava no meu ouvido
palavras de acalanto
em forma de passarinho...
[elza fraga]
Fonte da imagem: Internet.
SILÊNCIO PARA NÃO DESPERTAR A ALMA
Ando tão inflada
de cansaço e tédio
que até a palavra falada
acorda a alma.
Melhor calada,
mesmo que morem
mudas
milhares delas
mudas
milhares delas
plantadas
enraizadas
escapando
num silêncio doído
num silêncio doído
em ramas
pelas beiradas
da minha estrada.
da minha estrada.
[elza fraga]
QUEDA
Conforme a vida
espanca
conforma
levanta
canta
levanta
canta
com os olhos
no firmamento
no firmamento
até desatar o lamento
que sufoca fel
que sufoca fel
na garganta.
[elza fraga]
A SUA BÊNÇÃO QUERIDO
(Escrito em 13 de março de 2015)
E mais uma vez dia 13...
Esse caiu de cabeça
numa sexta
de lua minguada,
apertando o nó do peito
fazendo a saudade danada
desenfrear num sem jeito
de desmontar minha estrada...
Três meses da sua partida
para além
das cortinas cerradas
e ainda procuro seu jeito,
seu cheiro, sua palavra,
no meu lá dentro mais fundo...
De onde você estiver
estenda sua mão sobre mim
e mesmo que não consiga
lhe ouvir
daqui do inferno que habito
murmure no meu ouvido
Deus lhe abençoe, minha filha.
Bênção, meu pai querido.
[elza fraga]
FLANANDO
Então fica combinado
eu não lhe ataco
você não se esconde
eu não lhe ataco
você não se esconde
ninguém assina contrato
ou faz regulamento
regulando o tempo escasso
ou faz regulamento
regulando o tempo escasso
só se aproveita o vento bom
e se rema
de fato
pro oceano
e se rema
de fato
pro oceano
sem dores, sem queixas. sem danos
só planos.
[elza fraga]
ESTERTORES
Palavras.
Pra que servem
as minhas?
Pra que servem
as minhas?
Quedo calada.
Falar
traz uma gastura
danada
pra boca do estômago,
traz uma gastura
danada
pra boca do estômago,
uma paura
e um cansaço de mais de mil vidas
no limbo,
e um cansaço de mais de mil vidas
no limbo,
vividas
- não passadas
- não passadas
a limpo.
[elza fraga]
POEMA LOUCO NA NOITE COMPRIDA
Eu sou eu,
você é você,
diferentes, estranhos,
morando cada qual
na sua mania favorita
dentro do mesmo espaço
medido
por metro quadrado,
você é você,
diferentes, estranhos,
morando cada qual
na sua mania favorita
dentro do mesmo espaço
medido
por metro quadrado,
porque não redondo
nunca me perguntei,
sei que o mundo é curvo,
talvez,
mas certo mesmo
é que nunca sei onde deixei
a escova de dentes
e se ela escapou na curva
quando rodou o eixo
dessa terra estranha
e não mais a vista,
nunca me perguntei,
sei que o mundo é curvo,
talvez,
mas certo mesmo
é que nunca sei onde deixei
a escova de dentes
e se ela escapou na curva
quando rodou o eixo
dessa terra estranha
e não mais a vista,
agora só a prazo
e com juros
e eu juro
que não me adapto
a esse novo mundo
que reformularam pra caber no bolso
de alguns poucos escolhidos
e nós dois
otários que somos
sairemos dele
com a soma exata
das nossas desconquistas,
e com juros
e eu juro
que não me adapto
a esse novo mundo
que reformularam pra caber no bolso
de alguns poucos escolhidos
e nós dois
otários que somos
sairemos dele
com a soma exata
das nossas desconquistas,
e no final das contas
perderei você
e acharei minha escova dental
num buraco negro
perdido
no meio do nada
e ela
inerte na minha mão
parada
me cobrará dentes
brancos e perfumados
e me soprará no ouvido
num sussurro de susto
que estou morta,
perderei você
e acharei minha escova dental
num buraco negro
perdido
no meio do nada
e ela
inerte na minha mão
parada
me cobrará dentes
brancos e perfumados
e me soprará no ouvido
num sussurro de susto
que estou morta,
e enlouquecerei
pois aprendi
aos trancos e barrancos
quase tudo da vida
mas morrer
assim
de morte bem morrida
foi minha única lição
perdida.
pois aprendi
aos trancos e barrancos
quase tudo da vida
mas morrer
assim
de morte bem morrida
foi minha única lição
perdida.
[elza fraga]
A PRAGA DE HAMELIN
Para, escuta,
identifica,
o som não é o que acreditas.
identifica,
o som não é o que acreditas.
Vira, olha,
mira
- e corre -
sacaste agora?
mira
- e corre -
sacaste agora?
Permite
te alertar pro fato:
te alertar pro fato:
é a evolução dos ratos.
[elza fraga]
SENTADA NO ABISMO
Deixa o desgosto de lado
que o futuro imaginado
promissor
vai chegar
quem sabe
um dia.
que o futuro imaginado
promissor
vai chegar
quem sabe
um dia.
Espero que ainda dê tempo
de num leve cumprimento
saudá-lo
como merece
com requinte
e cortesia.
de num leve cumprimento
saudá-lo
como merece
com requinte
e cortesia.
No mais
é esperar em Deus Pai
em recolhimento e prece
é esperar em Deus Pai
em recolhimento e prece
e aturar a covardia
comendo o pão amassado
pelo pé do inominado
até chegar a alforria.
comendo o pão amassado
pelo pé do inominado
até chegar a alforria.
[elza fraga]
DERRAMANDO O CANSAÇO
Tem mais de mim
em mim
que gostaria.
que gostaria.
As vezes tento buscar
em terra estranha
- mentes alheias -
um pouco de estranheza
em terra estranha
- mentes alheias -
um pouco de estranheza
um olho mais atento
menos tormento.
Minha alma anda cheia
de ser eu mesma
de ser eu mesma
todo o tempo!
[elza fraga]
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
POEMETO DESCOMPROMISSADO
A felicidade
(igual a tristeza)
se engaiolada
encolhe suas asas
e vaza pelas beiras.
(igual a tristeza)
se engaiolada
encolhe suas asas
e vaza pelas beiras.
[elza fraga]
Fonte da foto: Internet
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