QUEM VEM COMIGO

sábado, 29 de agosto de 2009

CON-FUNDIDA

...
Perdeu a hora
a honra
a noção do perigo

E como diz o antigo
[e
bem mais sábio]
deitado
ao lado

'botou as perninhas
entre o rabo'

ou seria a-o contrário?

(Elza Fraga)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

'INDA AGORINHA ERA EU

.
Alguém me roubou
a casca
me tomou,
me dissolveu,
abduziu, induziu,
me transformou
me perdeu

'Inda agorinha era eu

Minha palavra não fala
quase tudo escureceu
a boca muda, fechada,
parece que enlouqueceu
de silêncio
de espreitada
de nada que aconteceu

'Inda agorinha era eu

O ar some na garganta
e fica a fome e o frio
dos que só vagam vazios
sem bagagem
hospedagem
sem documento ou registro
nas noites dos indormidos

'Inda agorinha era eu

O grito parou na porta
nem fugiu
nem se escondeu
escorregou pela lingua
mas morreu
sem ser parido

E agora é tudo breu
onde agorinha era eu!

(Elza Fraga)

domingo, 9 de agosto de 2009

ME VEJA

.
Por mais que eu me abra
me escancare e mostre
você enxerga em mim
o que não quero ser
e que talvez nem seja

e grito lá do fundo
"Por favor me veja"

Se fito o espelho
ele me mostra a outra,
a louca
que há no fundo
do meu mar calmo e azul

Só você me vê
pássaro migrante
indo para o sul

enquanto eu me sei
voltada eternamente
para o norte
olhando o horizonte

esperando a morte

(Elza Fraga)

VIDA

FORMATAÇÃO DE REGINA XAVIER
IN POEMA DE ELZA FRAGA


ENQUANTO CANTO

.
Crescem no chão
ervas daninhas
e a terra sobe
em montes

enquanto canto.

Descem raios
em diagonal
e a chuva molha
cabeças pensantes
e as nem tanto

enquanto canto.

No entanto
tudo normal no front
só a fronte que me arde
em febril
agitação
queima a mão
com que busco
o conforto

e tosco o mundo
continua a sua gira
pião
inconsequente

tonteia o olho que acompanha
o rodopio

Olho pro fundo
e vejo a verdade

o fundo do mundo
é vazio!

(Elza Fraga)