QUEM VEM COMIGO

sábado, 28 de julho de 2012

VIDA PARALELA


Será que saberei
o dia
de desmontar
desta montaria 
feita de retalhos
coloridos
de sonhos partidos
aos pedaços
que cavalgo
por vielas estreladas
pra deitar na relva
orvalhada

da realidade consumada?

[elza fraga]

Imagem: Blue horse - Franz Marc

CONVERSAS COM A INSANIDADE



Solidão
pedaço faltoso
no meio do peito
que a gente ilude
em conversas
com o espelho.

Um dia
eu tenho esperança
o espelho responde

e a solidão vai embora
e viramos criança

ou
se ensandece na hora!

[elza fraga]

CONSOLO



Senhor
só preciso
de mais longos braços
pro abraço de conforto
e alento
que preciso tanto

faz tempo!

[elza fraga]

FUGITIVA



Estou aqui
de novo
estenda a mão e sinta
meu aconchego
meu cheiro
meu desassossego
minhas inconstâncias
minha ânsia
de voar,

de fugir do pesadelo
onde não estás
pra encontrar
tua presença
que nunca arribou.

Só eu
ave tardia
presa do inverno
fugi pro inferno
escaldei as asas
atrás do calor.

Calor que sempre esteve aqui.

Então apenas
estenda a mão
e me engaiole enfim

e finja que nunca parti
fugindo

de mim.

[elza fraga]

EQUÍVOCO [2]



Não!
Este buraco no meu peito
não é saudade
do passado
mortinho e enterrado.

É só a construção
inacabada
da vida nova
cheirando a rosa

perfeita como um folheto
de propaganda enganosa,
abandonada

no esqueleto

[elza fraga]

SAPATOS VERMELHOS


[Adaptado da história infantil (?)]

Ainda cobiço
os sapatos vermelhos
na prateleira alta, 
mesmo sabendo
o risco
da amputação.

Ah, liberdade,
dançaria até a extenuação
pelo direito de escolha
e as rédeas

do coração

mesmo perdendo
o seguro chão
sob os pés bailarinos.

Ah, alma,
por que não me libertas
e devolve
meus sapatos de trapos

em troca destes
que tanto me pesam?

[elza fraga]

FRAGILIDADE



Um sopro
assim
vindo na boca
da noite 
pode acabar
com tudo
que insiste
em mim

tão frágil
que sou
comparada
a estrada
quase toda
caminhada.

Talvez
na próxima curva
me aguarde o tempo,
com seu relógio
de chuva e vento
com sua corrente
partida

impaciente e demente

sinalizando
a saida.

[elza fraga]

SILENCIADA



Dentro do meu silêncio
mora um mundo
de palavras
engolidas
molhadas
na saliva.

Nunca me arrependi
do que omiti

apesar da acidez
do estomago ulcerado
e do coração
escangalhado
por cada ultraje

não revidado.

[elza fraga]

MISSÃO



Busca
no eu mais profundo
o coração,
traga-o pra luz  
dentro da mão
aberta,
exposto,
e sinta arrepiar
até o osso
com a visão.

E só aí
estará apta
a compreender

o que veio fazer
[de verdade]
neste mundo.

[elza fraga]