QUEM VEM COMIGO

domingo, 29 de setembro de 2013

INCOMPETÊNCIA


Descobri

viver é um equilíbrio
que não consegui...

[elza fraga]


... 

DESCENDO O PANO




Se rugas sulcam a face
e os olhos já nem brilham
tanto

eu só culpo o pranto
por tanta vida fria
escorrendo
na coxia,

deveras não foi
o canto
a causa do estrago

pois esse foi amparo
nas noites vazias...

Agora,
quase na hora
de sair do palco,

me pego perguntando

se a alma vai vazia
ou leva bagagem

de terceira classe?

Imagem : Formatação Cida Fraga.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O POEMA IMPERFEITO



Que a minha verdade
não atrapalhe o caminho da sua

que a rua nem tenha esquinas

pra não corrermos o risco
do esbarrão 
na quina do fim do mundo,

que a minha verdade se cale
fundo
quieta

porque poeta
não pode amar poeta

misturar imperfeitos
complexos,

poeta só tem um direito
garantido por lei e estatuto:

poetar até perder as asas
minguar por expelir mais palavras
que as consumidas

e saber que o poema perfeito
é aquele
- exato -
que nos tira a vida!

[elza fraga]

Imagem tirada da internet como livre.
Se alguém souber autoria, entre em contato, por favor.

...

IN-SÍNTESE


Quero a síntese 
do abrigo pequetito
para resguardar
minhas palavras

- mas não consigo! -

Promiscuamente
indecente
em intimidades não permitidas,
prolixa,
abuso dos substantivos
comuns e abstratos,

dos verbos,
dos adjetivos,
dos rótulos imaginários

- cometo até pleonasmos -

me rasgo
em versos estendidos
subjetivos,

na busca insana
- que não me contempla -

do poema objetivo.


[elza fraga]
...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

APOSENTADORIA DE POETA



Se tristeza pingasse
da poesia
como pinga do olho

acabaria a magia
do poema

- e todos os poetas
morreriam -

Pena,
a minha começou
a sangrar dor

e se findou.

[elza fraga]
 — se sentindo incapaz.

MUDANÇA DE RUMO





Enfim ele veio,

como um sopro de vento,
uma luz
inesperada
rasgando o firmamento

- tentando segurar o tempo -

uma estrela
no meio da manhã,

um milagre
uma promessa cumprida,
uma fita
solta no cabelo,
um sorriso de canto de boca
uma página inteira
de um livro
perdido,
um aviso
de que é permito sonhar
nesse canteiro

só não pise nos sonhos alheios.

Enfim ele veio,

trouxe sol
terras distantes
coração de amante
e abraços
de bagagem

e me fez
por fim
entender a partida
e começar a viagem
só de ida

pra fora
de mim...

nunca mais
retornarei
a ser eu mesma...

[poema de elza fraga

Com imagem de página do livro "Para comover borboletas", do poeta limoeirense Kelson Oliveira]
 — se sentindo bobamente feliz.

SEM SINAIS VITAIS


[...mas lúcida e orientada]

Reaja,

lute pela vida,
respire,

_eu tenho medo.

Plante,

colha, coma
se dignifique,

_eu tenho medo

Acorde

o sol alto lá fora
vivifica,

dá substância,

_eu tenho medo.

E de tanto ouvir
de muitos
decidi
ainda é cedo demais
pra reagir,

enfrentar
o passo a passo
que desenha vida

sair
da letargia...

Me deixem aqui
- eu e a covardia -

daqui pra frente
só quero
dormir...

[elza fraga
 — se sentindo derrotada.

ESTIAGEM



Quando meus olhos secarem
findarem na estiagem
de tanta coisa ruim
que viram pelas estradas

chorem um lago por mim.

Quando a mão não coordenada
deixar cair o meu verso
e livres não mais voarem
poemas pelo universo

escrevam estrelas por mim.

Quando a amargura selar
o sorriso dos meus lábios
e a tristeza vir cantar
cantigas de não ninares

cuspam na vida por mim.

Quando o corpo sucumbir
e desatar as amarras
abrindo a prisão da alma
pra que ela possa fugir,
enfim...

Com calma

fechem meus olhos por mim.

[elza fraga]

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PRE-TEXTO



Sabia
- é velha a profecia -
que 
chegaria o basta

e que nunca
me acostumaria
a calmaria falsa

de águas vastas
paradas no imundo...

Mergulhei profundo
submergi
atrás de movimento

me perdi
nas correntes do fundo

e agora
não mais encontro

o mundo.

[elza fraga]

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

ALÉM DAQUI



Nua
minha alma se apresenta
e posso afirmar 
que ela é tua,
mesmo sem saber
o que virá

ainda...

O corpo
- a matéria sempre finda -
o tempo mal
resolveu transmutar
e destruir
num trabalho gradual
e de excelência,

mas a essência
está aqui
limpa e linda
assim como pedras,
montanhas, luas cheias,
a maré batendo na areia,

apesar das coisas
que já vi
duras e feias
ainda sou a menina
que pensas que fugiu...

Aos teus anseios
permito
essa melhor parte de mim

enquanto vida correr
nas fracas veias

derramo-me em ti

só assim, depois do fim,
terei certeza

que não parti.

[elza fraga]

NINGUÉM ME ENSINOU A NADAR



Remo com fé e com força
mesmo 
em águas revoltas
evito partir 
a quilha

dessa modesta canoa,

a receita é persistir
agarrada a espia

- corda que nunca desfia -

talvez - quem sabe? -
algum dia
os mares ficarão calmos
como a água dos aquários,

quem' inda estiver por aqui
pega minha embarcação
os remos que esqueci

desbrava praias sem fim

- onde
eu nem consegui -

por mim.

[elza fraga]

RETALHOS



Sua presença me inventa 
quando lê
meu pensamento, 

meu coração faz morada
na sua mão inquieta
adormecendo no tempo,

pensar em ausência
me esgarça
eriça-me os pelos
em guarda...

E me pergunto
assombrada
juntando as peças
desfeitas

de quantos você
afinal
eu sou feita?

[elza fraga]

ESPREITA


Bato continência
e saio

reverencio
seu silêncio sábio

sua ausência
sinto na carne

pois essa
desespera e arde,

o que comporta
a sutil presença

o rápido movimento

é a alma

essa espera calma
o momento

pois sabe
que
sempre existirá

o tempo.

[elza fraga -