QUEM VEM COMIGO

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

CALADA-MENTE



A mente nos boicota
todo o tempo
nos engana
nos mente
nos enreda
inventa fatos
cria seus fantasmas
e nos dá
todos eles
de presente.


A mente mentirosa
inconsequente
pressente
nosso medo
e o aumenta
faz gato e sapato
de simples teoria
a esvazia dos conceitos
que dormiam
e infla
de terrorismo
e anomalia.

Cedo se aprende
ou se domina a mente
ou a mente nos domina
para sempre.

[elza fraga]

EM FASE DE ACABAMENTO



Sou só o arcabouço
de uma casa
sem emboço,
sem reboco,
sem pintura,

aos poucos
vou me moldando,
me arejando,
me caiando,

até chegar a armadura,
a laje, a pintura,
até completar o desenho
plano,

talvez demore meses
talvez demore anos
talvez demore vidas

sem pressa
vou me acabando.

[elza fraga]

DIA DA IN-DEPENDÊNCIA




Chove tanto
nessas dependências
que desconfio
que temos
alguma pendência
com São Pedro
a ser resolvida

sobre chaves
e portões
em muros
- escuros -
ainda nessa vida.

[elza fraga - 07/09/2015]

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

SEM MEDIDA



Não é o justo
que faz a medida,
não é o curto 
que me mede a vida,
não é o tosco
que decide fatos,
não é a inocência
que vai colher o ato,
não é o infinito
que desenha o tempo,
não é a loucura
que calça a estrada,
não é a fome
que norteia o homem,
nem a certeza,
é o que me guia os passos,

porque há dentro de mim
um estranho pássaro
cativo
que ainda teima
em se manter vivo
apesar
de todos os fracassos.

[elza fraga]

SE NÃO SOU POETA



Ora, se não sou poeta
o que sou eu,
o que sobraria
enfim
de meu?
A alma  respondeu:
Sobraria o que não
me ocupa espaço
não traz referencial
não liberta o pesadelo
não anestesia o medo
não vence o mal.
Sobraria
a corrida
endoidecida
pelos becos da vida,
tecendo enredos
cantando cantigas
fingindo,
péssima atriz,
ser o que não quis.
Talvez sobrasse ainda
uns restos da menina
que fui
e que recusou crescer
e no escuro me procura - tonta,
me sonda
querendo novamente ser.
Sobraria
um monte de vazio
que nunca conseguiria
preencher
e uma carcaça
(último bem que me ficou
de meu)
avisando
o quanto de nada
sou eu.

[elza fraga]