QUEM VEM COMIGO

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

CERTEZA DA PARTIDA



Se aqui estou de passagem
e se ao partir deixo tudo
o que colhi de bagagem
nem hei de atravessar
um centavo do caminho
por que insisto em ajuntar
sonhos torpes pelo mundo
em taças de fino vinho?

E por que o vagabundo
do coração no meu peito
não toma tenência e jeito?
Por que então sofro tanto
choro e me descabelo
se o alvo dos meus anelos
nem sabe se vou ficar
até a noite surgir?
Até o dia voltar?

E se agindo assim
juntando trapos e dias
juntando pão e vasilhas
juntando mãos tão vazias
tentando prender um pouco
de vida na concha dos dedos
tentando juntar meus medos
pra depositar aos pés
desse amor que no segredo
nublou dias infiéis,

eu só consigo notar
que foi como um furacão
que me tornou em verão
deixando devastação
incêndio, fogo, degredo.


E se sei que só consigo
perder-me pelas estradas
por que ousada ainda assim
insisto na empreitada?

Melhor seria deitar.
Talvez morrer, descansar,
se é que morte é descanso?

Ou lutar contra a corrente
que teima em me afogar
em me  tirar do lugar,
me jogar em cada canto
onde só mesmo o seu encanto
insiste em me trazer
lembranças doces e infindas
do tempo em que eu era
menina ainda... e apesar?

Não sei mais me apartar
do seu córrego que desce
a serra verde, encantada
e por mais que o tempo mude
as estações e as estradas
eu volto rebelde e louca
pro seu colo e seu entorno
e me entorno no seu olho
e me perco de danada

e faço ouvido de mouca
para as placas espalhadas
que há perigo iminente
nas curvas acentuadas
do seu corpo inconsequente
que fere mais que acidente
que mata mais que trombada.

Vou morrer só por querer
me superar, prender você,
escorregadio e indolente,
nos devaneios que levo
no silêncio da madrugada
onde me perco demente
e me transformo em semente

de fruto de quase nada!

[elza fraga]



domingo, 25 de setembro de 2016

PLANO SECRETO



Trazer você dum passado
distante,
nesse exato instante

desamarrotar o amarrotado
desfazer o contrato
que o tempo infeliz
assinou como projeto:
"Eu aqui
você lá atrás"

esse é
o meu plano secreto.

[elza fraga]

ELE...




Ele,
apenas isso
não eu e tu,
só ele...
parado,
intacto,
voltando do passado,
sorriso congelado
no rosto frio
do retrato.
[elza fraga]


QUE FAÇO SE ACORDO COM TEU NOME / DEBAIXO DAS RUGAS INSONES?



Que faço se acordo com teu nome
debaixo das rugas insones?

E se durmo com ele? E se vivo com ele nas manhãs vazias? E se essa agonia nem mais me assombra pois tornei-me em tua ameaçadora sombra, e acostumei-me a triste fantasia de desenhar-te em paredes sombrias, dentro da alma que ensandecida sente fome de ter-te por perto, noite após noite, dia após dia, como uma história dentro de gaiola que se repete em monotonia, como ondas em escuridão e fúria que nem mais sabe em que seguras praias irá desembocar tardia murmurando teu sagrado nome em poesias incorretas, incerta, louca, desperta, fitando a terra onde só os loucos e os solitários dormem... insonemente poeta. [elza fraga]

domingo, 4 de setembro de 2016

DECLARAÇÃO DE ETERNO AMOR




Cheguei 'inda agorinha 

e o coração já estreito,

mar o que fazes comigo, 

qual o poder do feitiço, 

por que me atrai desse jeito? 

Não me queres como amigo? 

Amante já sou, 

ré confessa, 

um dia, nesses teus braços, 

farei meu pouso e abrigo, 

atravessarei para a festa 

do plano além do infinito 


mais longe do que o já visto.


[elza fraga]

Imagem: Foto elza fraga, Marataízes, ES.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

MANIA



Eu teço textos,
direitos ou avessos,
mas apenas isso...

Eu não me teço!

Não há biografia,
geografia
de qualquer pedaço,
parte do meu mapa,
miolo ou capa,

nem vou junto
atada de laços
no contexto.

Apenas nuvens
que me nascem
sem controle ou culpa,
sem desculpa,
sem muita serventia,

me vem de dentro
mas não são lamentos,
pertences,
vertentes,
são só palavras
que eu aglomero,
intero,
e tento dar cor.

Se vivo parindo poesia
é mania

não é dissabor.

[elza fraga]

Fonte da imagem: Internet.

QUERO MORRER NO TEU ABRAÇO... POSSO OU PASSO?




(E seria / ainda mais legal / ter-te / pra sempre / em meu quintal!)

Eu queria
morar no teu abraço
ao menos uma vez
pra sempre...

Se é que entendes
essa urgência
d’eu não estar comigo
aqui...

Mas me mostraste
a saída de emergência

e eu entendi!

[elza fraga]


Fonte da imagem: http://celsitcho.tumblr.com/