Ao chegar pise leve
como brisa de primavera,
não queime como sol de verão,
nem gele como noites de inverno,
pra não machucar meu coração
que já anda aos tropeços
pelo inferno.
Seja manso, fale como quem canta,
ou cante uma canção antiga que eu ainda não conheço.
Que a voz seja como um acalanto
pra espantar segredo.
E se permanecer
se transforme em sombra,
e ande nas pegadas dos meus passos.
Não me abandone ao relento,
não fuja,
não me dê espaço pra voar
longe da segurança dos seus dedos.
E me embale como se criança fosse,
e me tire de vez os pesadelos.
Que nunca mais o medo
do escuro
venha povoar as madrugadas.
E se partir não me diga nada,
nem adeus na hora da saída,
saia como quem pega a estrada
sorrateiro.
Vire memória.
Vire lenda.
Vire saudade.
Vire o sonho que sonhei
inteiro.
E leve com você
apenas minha imagem
tatuada
na alma.
Ziza Rochedo
Tentando poetar pra chamar o sono, mas ele não atende mais.
TEMPO IN-VERSO
sou de palavra pouca falo com olho economizo boca
QUEM VEM COMIGO
quarta-feira, 20 de março de 2019
segunda-feira, 30 de abril de 2018
FOME
Você tem seus compromissos, eu tenho os meus, coisas do dia a dia, rotina roendo a vida com pressa, afazeres gritando venha agora, cobranças, urgências, preemências...
Mas naqueles momentos que - fingindo ser acaso - nos encontramos no mesmo espaço, deixo que minha mão roce a sua, timida de princípio, nos beijamos na face fingindo amizade, sei que seu peito bate tão forte quanto o meu, sei que meu rosto fica rubro como se novamente menina fosse, cheia de pudores e medos. Quando suas coxas, em ousadia explícita, tentam se misturar as minhas, me vem um calor de aconchego, uma vontade de esquecer o socialmente correto, e de abrigar seu peito no meu peito bem achatado, apertado, amassado, virar o rosto na hora do beijo na face, oferecer a boca que está esperando faz tanto tempo que anda salivando as palavras.
Depois deixar correr o vento, o tempo, as mãos nas reentrâncias do seu corpo.
Deixar correr solta a imaginação desenhando o pressuposto agora com a tinta do real.
E que a verdade nos carregue, nos cegue de paixão, nos envolva e nos gire na roda do incorreto, que o resto a gente ajeita com carinho pelas esquinas do acaso, se é que sobrarão restos para se ajeitar nesse mundão torto que a nossa cobiça anda inventando, sem palavras, nas horas em que roçamos nossos peitos em abraços de pretensa amizade.
E doído é compreender que a sua fome é do tamanho da minha, Doído é saber que não serei eu a dizer o primeiro “tô com fome de você”.
elza fraga
segunda-feira, 8 de janeiro de 2018
SÓ UM SER HUMANO
HOMO SUM HUMANI A ME NIHIL ALIENUM PUTO
(sou um ser humano, então nada humano é estranho para mim)
Todos somos máquinas. Nosso corpo é um emaranhado de fios, circuitos, eletricidade, correria de óleo em forma de sangue pra lubrificar tudo na medida certa.
Como toda máquina se gasta com o uso e o tempo, também nos gastamos. Como toda máquina tem alguma chance de conserto, corremos atrás dos nossos ajustes.
Vamos em busca da manutenção.
Escolhemos o técnico dentro da medida do que cabe no nosso bolso, pesquisamos muito, atrás da qualidade dos serviços.
Finalmente fechamos o acordo com o que nos parece o mais capacitado. E entregamos nossa máquina-corpo humano em mãos estranhas, clamando aos céus que tudo corra lindamente azul no nosso paraiso interior.
E só depois saberemos o quanto acertamos ou erramos na escolha do técnico.
E como nossa máquina tem várias áreas em funcionamento distinto, mas correlatos, muitas vezes um consertinho básico numa engrenagem estraga outra.
Acabamos no final dos consertos, dos ajustes, da manutenção, com todas as áreas comprometidas.
A física rateando nas curvas, pedindo mais óleo antes do tempo.
A mental precisando de terapia pra se adequar as novas condições físicas,
A psicológica perdendo a lógica e a lucidez, clamando por mais velocidade, quase queimando o HD.
E a espiritual sem forças pra buscar na fé a manutenção Superior.
Aí a gente pensa em como seria bom se já tivessem inventado a máquina do tempo.
Entraríamos nela e voltaríamos aos tempos em que um rifle, um cavalo, uma perseguição e uma bala acabava com os que destroem esperanças alheias em consertos colados no cuspe.
Não podemos, nos lembra a pequena parcela da mente que ainda funciona com pilhas vagabundas.
E que tal o tempo onde havia índios canibais? Assaríamos na fogueira quem promete e não cumpre.
Também não podemos, lembra a parcela espiritual que ainda insiste em crer que há motivo pra tudo sob este céu anil.
Bem, então que tal voltar ao tempo em que não existia medicina, em que se curava tudo com um cházinho, uma benzeção, muita fé e prece?
Aí o psicológico se recupera do trauma e grita: Eureka!
E a luz se faz.
Porque depois que a máquina começa a dar erro, não há quem dê jeito, vai só se fazendo gambiarras, emendando com fita crepe ou isolante, fingindo que está tudo bem.
Não culpemos o técnico, então.
Não busquemos culpados no exterior com lanterna na mão, busquemos dentro.
Culpemos a nós por entrarmos tão afoitos na fila da reencarnação e prometer que aguentaríamos tudo por esta chance de estar aqui, com nossa máquina que, no final das contas, nos provou que não era a Ferrari que a gente imaginava.
elza fraga
consciente que alguns ajustes afinal não deram tão certo, portanto desnecessários eram.
(sou um ser humano, então nada humano é estranho para mim)
Todos somos máquinas. Nosso corpo é um emaranhado de fios, circuitos, eletricidade, correria de óleo em forma de sangue pra lubrificar tudo na medida certa.
Como toda máquina se gasta com o uso e o tempo, também nos gastamos. Como toda máquina tem alguma chance de conserto, corremos atrás dos nossos ajustes.
Vamos em busca da manutenção.
Escolhemos o técnico dentro da medida do que cabe no nosso bolso, pesquisamos muito, atrás da qualidade dos serviços.
Finalmente fechamos o acordo com o que nos parece o mais capacitado. E entregamos nossa máquina-corpo humano em mãos estranhas, clamando aos céus que tudo corra lindamente azul no nosso paraiso interior.
E só depois saberemos o quanto acertamos ou erramos na escolha do técnico.
E como nossa máquina tem várias áreas em funcionamento distinto, mas correlatos, muitas vezes um consertinho básico numa engrenagem estraga outra.
Acabamos no final dos consertos, dos ajustes, da manutenção, com todas as áreas comprometidas.
A física rateando nas curvas, pedindo mais óleo antes do tempo.
A mental precisando de terapia pra se adequar as novas condições físicas,
A psicológica perdendo a lógica e a lucidez, clamando por mais velocidade, quase queimando o HD.
E a espiritual sem forças pra buscar na fé a manutenção Superior.
Aí a gente pensa em como seria bom se já tivessem inventado a máquina do tempo.
Entraríamos nela e voltaríamos aos tempos em que um rifle, um cavalo, uma perseguição e uma bala acabava com os que destroem esperanças alheias em consertos colados no cuspe.
Não podemos, nos lembra a pequena parcela da mente que ainda funciona com pilhas vagabundas.
E que tal o tempo onde havia índios canibais? Assaríamos na fogueira quem promete e não cumpre.
Também não podemos, lembra a parcela espiritual que ainda insiste em crer que há motivo pra tudo sob este céu anil.
Bem, então que tal voltar ao tempo em que não existia medicina, em que se curava tudo com um cházinho, uma benzeção, muita fé e prece?
Aí o psicológico se recupera do trauma e grita: Eureka!
E a luz se faz.
Porque depois que a máquina começa a dar erro, não há quem dê jeito, vai só se fazendo gambiarras, emendando com fita crepe ou isolante, fingindo que está tudo bem.
Não culpemos o técnico, então.
Não busquemos culpados no exterior com lanterna na mão, busquemos dentro.
Culpemos a nós por entrarmos tão afoitos na fila da reencarnação e prometer que aguentaríamos tudo por esta chance de estar aqui, com nossa máquina que, no final das contas, nos provou que não era a Ferrari que a gente imaginava.
elza fraga
consciente que alguns ajustes afinal não deram tão certo, portanto desnecessários eram.
SOMATÓRIO
Nos tornamos a soma do que engolimos, do que choramos escondidos no leito, do que aceitamos calados, do que permitimos, do que não falamos por receio, do que guardamos por medo do futuro, do que desperdiçamos por revolta com a vida que nos coube, do que pedimos em prece ou blasfemamos em gritos, do que ouvimos e acreditamos, do que duvidamos, do que espalhamos ao vento, das coisas bonitas ou feias que vemos, do lugar em que estacionamos, dos lugares que fugimos, das rosas que não colhemos, do tudo que matamos ou preservamos na caminhada árdua.
Nos tornamos a soma dos que deixamos entrar e sair das nossas vidas.
E é por isso que nos ardem tanto as feridas do final do nosso tempo e, como tocos de velas, nos gastamos em lágrimas enxugadas pelo amigo vento e seu bendito lenço.
elza fraga
Se sabendo mortal apenas neste plano, mas eterna no que somou pra travessia.
Nos tornamos a soma dos que deixamos entrar e sair das nossas vidas.
E é por isso que nos ardem tanto as feridas do final do nosso tempo e, como tocos de velas, nos gastamos em lágrimas enxugadas pelo amigo vento e seu bendito lenço.
elza fraga
Se sabendo mortal apenas neste plano, mas eterna no que somou pra travessia.
DESPIDA
Eu me despi de ti.
Soltei as alças, desabotoei a alma que estava presa a tua, deixei escorregar a vestimenta lentamente até o chão.
Pisei sobre cada dobra suja.
Chutei o mais longe que consegui com meus pés já nus.
Agora, liberta, saí pela porta, nua de qualquer presença tua.
Desculpa se não disse adeus... Não deu!
O meu tempo agora é pouco pra tanta correria atrás do vento, buscando ter de volta o que havia antes de ter te vestido:
Um passado bem traçado de esperança, uma lembrança d'um alguém inexistido.
Talvez ele exista e eu só não saiba em que estrela se escondeu.
Enquanto durou até foi divertido.
Mas ninguém vive só de risos, é preciso mais, é preciso paz, voo, liberdade.
Estou pegando e desembrulhando a minha vida ela será meu presente de Natal.
O meu melhor presente é ter-me de volta aos braços meus.
Desculpa se não me doeu...
elza fraga
Querendo voar novamente, jogando fora o peso e atarrachando, de volta, as asas.
Soltei as alças, desabotoei a alma que estava presa a tua, deixei escorregar a vestimenta lentamente até o chão.
Pisei sobre cada dobra suja.
Chutei o mais longe que consegui com meus pés já nus.
Agora, liberta, saí pela porta, nua de qualquer presença tua.
Desculpa se não disse adeus... Não deu!
O meu tempo agora é pouco pra tanta correria atrás do vento, buscando ter de volta o que havia antes de ter te vestido:
Um passado bem traçado de esperança, uma lembrança d'um alguém inexistido.
Talvez ele exista e eu só não saiba em que estrela se escondeu.
Enquanto durou até foi divertido.
Mas ninguém vive só de risos, é preciso mais, é preciso paz, voo, liberdade.
Estou pegando e desembrulhando a minha vida ela será meu presente de Natal.
O meu melhor presente é ter-me de volta aos braços meus.
Desculpa se não me doeu...
elza fraga
Querendo voar novamente, jogando fora o peso e atarrachando, de volta, as asas.
A FALTA QUE VOCÊ FAZ
Sinto falta do sorriso de canto de boca, do brilho no olho, da mão que aquecia a minha, dos sonhos que compartilhava, das teimosias, da mania de ter razão, da falta de compromisso com o tempo, das rabugices, do olhar doce que dizia tanto, das noites de mirar estrelas, dos apelidos carinhosos, das brincadeiras de travesseiros na cama, das ousadias, das horas de delicadeza, dos momentos de brutalidade, da dificuldade de ler os meus escritos, dos gritos por qualquer besteira, do violão que dedilhava nas tardes mornas, das modinhas que cantarolava, da voz rouca com que me brindava.
Sinto falta do que poderia ser.
Só não sinto falta do adeus, da porta batida na saída, do meu olho na vidraça até o sumiço na extrema esquina, da ausência que ainda me perturba e me domina, da saudade que me fere fundo.
Por mais longe que o tempo correu a sua falta no meu peito não morreu...
elza fraga
#ApenasHistória
Sinto falta do que poderia ser.
Só não sinto falta do adeus, da porta batida na saída, do meu olho na vidraça até o sumiço na extrema esquina, da ausência que ainda me perturba e me domina, da saudade que me fere fundo.
Por mais longe que o tempo correu a sua falta no meu peito não morreu...
elza fraga
#ApenasHistória
EU ARRISCO
A vida é um carro desgovernado descendo ladeira sem freio.
Tem gente que pensa que ela é uma subida, coitados, quando se derem conta do engano já estarão no fundo do vale onde sol nem chega.
Hoje acordei com a sensação que o carro da minha vida está pegando cada vez mais velocidade, deixando pra trás a cidade e se embrenhando na mata, serpenteando serras, correndo e comendo terra como quem tem muita pressa.
Ainda ontem eu era uma moleca feliz, hoje já não sei me definir, só sei que o buraco do peito aumenta e não tem quem o suture, então aguento e finjo que sou forte enquanto a estrada da vida me ruma para o norte, para o frio, para a morte.
Talvez vire um raio de luz roubado de noite de lua cheia. Talvez vire um cometa e possa voltar, orbitando o planeta. Talvez vire adubo para o ipê da praça, aquele amarelo que atapeta o chão de outono...
Ou talvez o fim seja apenas um profundo sono de bela adormecida e sua história de cem anos.
De qualquer maneira eu sigo, não tem semáforo, não tem parada pra abastecer a alma.
A vida deve ser um grande engano, um equívoco, um sonho ou um pesadelo.
Então sigamos, com medo ou sem medo, até a colisão final.
Afinal a escolha da estrada é por nossa conta e risco,
e eu arrisco!
Elza fraga
Aproveitando a viagem.
Tem gente que pensa que ela é uma subida, coitados, quando se derem conta do engano já estarão no fundo do vale onde sol nem chega.
Hoje acordei com a sensação que o carro da minha vida está pegando cada vez mais velocidade, deixando pra trás a cidade e se embrenhando na mata, serpenteando serras, correndo e comendo terra como quem tem muita pressa.
Ainda ontem eu era uma moleca feliz, hoje já não sei me definir, só sei que o buraco do peito aumenta e não tem quem o suture, então aguento e finjo que sou forte enquanto a estrada da vida me ruma para o norte, para o frio, para a morte.
Talvez vire um raio de luz roubado de noite de lua cheia. Talvez vire um cometa e possa voltar, orbitando o planeta. Talvez vire adubo para o ipê da praça, aquele amarelo que atapeta o chão de outono...
Ou talvez o fim seja apenas um profundo sono de bela adormecida e sua história de cem anos.
De qualquer maneira eu sigo, não tem semáforo, não tem parada pra abastecer a alma.
A vida deve ser um grande engano, um equívoco, um sonho ou um pesadelo.
Então sigamos, com medo ou sem medo, até a colisão final.
Afinal a escolha da estrada é por nossa conta e risco,
e eu arrisco!
Elza fraga
Aproveitando a viagem.
domingo, 20 de agosto de 2017
FIM DE FESTA
Do que me restou
fiz um tecido
e com ele costurei
o meu vestido
para o baile que a vida convidou.
Peguei estrelas, pedaços de mar,
pores de sol, flores de jardins,
montanhas com nuvens de coberta,
separei e guardei
muito musgo verde,
muita hera,
e fiz da festa da vida
a minha própria festa.
E dancei, girei valsas, pés de ponta
cabeça erguida apesar de tonta.
Agora com as luzes apagadas
e os restos espalhados pelo chão,
o vestido aos frangalhos,
a alma nua,
levanto do solo só o coração,
e guardo de recordação
d'um tempo que a vida, amiga,
comigo dançava
sob a lua.
[elza fraga]
Em textos pra morar nas gavetas.
Imagem retirada da internet.
domingo, 13 de agosto de 2017
PRECISO DE UM POEMA
Hoje necessito da poesia
como preciso do cheiro do mato,
como muleta, como luz,
como amuleto,
como cruz que arrasto
com meu peso
travando os passos,
como sol a aquecer o dia,
preciso da alegria
mesmo fugidia,
mesmo sem tê-la,
como preciso voar,
ganhar o espaço,
e escrever meus versos
nas estrelas.
Hoje que se faça o poema
do que sobrou de mim
dos cacos
que nem foram recolhidos
ainda
que a vida escoa pelas
minhas veias,
e já sinto que tudo que me era,
Finda!
[elza fraga]
Em dia de profunda tristeza porque bater em mim, vida, pode, eu aguento, mas nos meus afetos não que aí já é covardia.
domingo, 23 de julho de 2017
MEDO
Voei pensando que/ talvez do alto/ encontraria em alguma esquina/ um vulto/ bendita aparição/ seu perfil definido pela rua/ mas noite sem lua é só escuridão.
Tentei achando que seria fácil/ resgatei asas endurecidas/ vasculhei cada canto desta vida/ e perguntei a cada estrela esquecida/ onde se escondeu/ o que eu pensava meu.
Voltei de mãos vazias/ e olho de pranto/ nunca neste mundo/ o desencanto/ fez um vivente chorar tanto/ por perder o que nem tinha.
E no jogo que o destino nos prepara/ em tabuleiro/ eu não ganhei sequer uma partida/ perdi todas as fichas/ e em desatino/ acabei virando a mesa.
E aqui/ agora/ já no chão/ asas tão quebradas quanto o coração/ só pra você eu conto meu segredo/ quando digo que sou forte/ e sobrevivo/ na sua ausência/ é só mentira gerada pelo medo!
[elza fraga]
segunda-feira, 15 de maio de 2017
Apenas Poema
Sou a mulher que não quis crescer por birra. A criança grande demais pra se caber por dentro. A anciã que observa e sabe da vida. A sombra que espelha um muro de feridas. A luz da pequena chama que se apaga ao sopro. A que se formou em frases feitas e se conceituou.
Sou a que se prendeu na ampulheta do tempo e não deixou que o vento arrastasse suas folhas p'rum banco qualquer de qualquer praça ao relento, detendo a areia que caia fluida na veia.
Sou a história esboçada de quem não soube dar um basta, sem fazer final ou arremate, a que não se contou;
sou só aquele canto triste que ninguém ainda cantou.
[elza fraga]
Sou a que se prendeu na ampulheta do tempo e não deixou que o vento arrastasse suas folhas p'rum banco qualquer de qualquer praça ao relento, detendo a areia que caia fluida na veia.
Sou a história esboçada de quem não soube dar um basta, sem fazer final ou arremate, a que não se contou;
sou só aquele canto triste que ninguém ainda cantou.
[elza fraga]
domingo, 2 de abril de 2017
A ROSA E O ESPINHO
Ele queria dela a juventude, a carne tenra, a amplitude dos seios no vestido que mal escondia o que deveria ser segredo.
A ele atraia o medo de menina no olho profundo que o seguia a descobrir o mundo.
A ele atraia o medo de menina no olho profundo que o seguia a descobrir o mundo.
Ela queria dele o compromisso, o amor eterno dos livros que andara lendo escondido por proibidos, queria atravessar se preciso um oceano e por ele mudar os planos de vida.
A ela atraia a ideia do pra sempre, as mãos entrelaçadas em promessas, os folguedos, as vindouras festas que antevia.
A ela atraia a ideia do pra sempre, as mãos entrelaçadas em promessas, os folguedos, as vindouras festas que antevia.
Ele só queria que ao final do dia ela deitasse no seu leito, se esparramasse inteira no duro do seu peito e deixasse a descoberto seu ventre enquanto o sangue ainda corria quente em suas veias.
Ela só queria um jeito de se aninhar e nunca mais ter solidão, acalmar de vez um coração que nunca sentira algo tão fundo e dolorido.
Enquanto pra ele bastava conquistar o direito de lhe arrancar o vestido, lhe colocar em pelo, carnes nuas, fazê-la sua e sair de cena; ela ousava sonhar com a perpetuação da pena, com a escravidão bem-vinda, com o suplício que viria com o vício que ele era.
Ele nunca entendeu o desespero com que ela se agarrou aos seus cabelos, os gritos roucos, o pranto, o riso louco, a tentativa de barrar seus passos já na saída.
Ela nunca entendeu porque, ou o que fez pra que tudo se acabasse sem adeus, talvez uma palavra não dita, a falta de um poema, uma pequena frase esquecida murmurada num esgar de dor e de prazer.
Abaixou a crista para a vida, se conformou lambendo a ferida que ele deixou.
Enlouqueceu talvez, quem vai saber?
Enlouqueceu talvez, quem vai saber?
Só se sabe que agora nada mais resta da beleza, da euforia, dos sonhos dos antigos dias.
Ficou apenas uma janela aberta, uma sombra que se projeta dela, uma cortina que voa sem destino, e um menino crescendo sorrateiro dentro do ventre que se deu inteiro,
pra quem nem merecia a honraria.
Ficou apenas uma janela aberta, uma sombra que se projeta dela, uma cortina que voa sem destino, e um menino crescendo sorrateiro dentro do ventre que se deu inteiro,
pra quem nem merecia a honraria.
ATRAVESSANDO O PORTAL
Perdeu a cor, o brilho, a esperança/ desovou na primeira curva a criança/ que insistia em estar ali, dentro de si/e que nem sempre havia sido mansa/ sempre fora tempestade e rebeldia/ tinha a estranha mania de chegar primeiro/ e colocar no avesso seu roteiro.
Sem remorso, culpa ou medo/ a depositou na sarjeta/ nem sequer pensou se era acerto ou erro.
E vazia então seguiu só/ anciã buscando o amanhã da sorte/ procurando no caminho a estrela da morte/ e da travessia/ aquela guia que tudo sabia da estrada/ que entendia que no final da trilha/ toda protagonista, envelhecendo ou não/ por melhor que seja sua história/ um dia morre.
Mas ela ainda queria ver no céu/ uma estrela da manhã nascente/ e só partir quando o sol viesse de mansinho/ e num afago reverente/ lhe beijasse as faces/ lhe fechasse os olhos tão cansados/ e lhe soprasse aos ouvidos/ como um terno amigo/
"-Vai, agora é sua vez de descansar do mundo/ que esse lhe feriu profundo/ e sempre lhe virou as costas, deixou suas perguntas sem respostas/ sua juventude nua jogada por antigas ruas/ seu canto perdido sem ouvinte atento/ sem ecoar forte e sem mudar o rumo/ de algum passante que se aventurasse/ a caminhar junto a seus passos/ e que abraçasse a sua solidão/ levando pelas mãos sua alma inquieta/ e lhe criasse leito e laços."
E então obedeceu e foi cumprir sua meta/
Quieta saiu da viela por onde insistia em sua rota/ fechou nas mãos o pouco que era seu/ uma nesga do céu/ uma nuvem pra servir de coberta/ uma flor já morta/ um pouco do mar/ que esse sempre morou no seu olhar/ um pedaço de luz pra lhe servir de norte/ e corajosamente atravessou a morte!
[elza fraga]
PAPO RETO
(Adiantando o epitáfio, com textão - e é só desabafo, não me vou agora, ainda não...)
Não preciso mais viver por aqui, começo a acreditar que cumpri meu ciclo, todos os sinais apontam pra isso. Quem me conhece direitinho sabe bem do que falo.
Só espero que os abutres disfarçados de gente amiga não venham pra cá dizer, mentirosamente, o quanto eu era boa e especial (e como faço falta).
Não! Não era boa, não sou, não serei. Se escapar do umbral, e peço isso em todas as minhas preces, já me darei por muito satisfeita. Uma vaguinha numa frisa lateral está de bom tamanho. E se tiver verde, e rosas de todas as cores, e bouganvilles, e passarinhos, e céu azul...
Acho que exagerei nos pedidos, rsrs, desculpe aí turminha que administra a transferência de plano.
Se tiver paz e música já estará confortável.
Mas bato na mesma tecla, não venham chorar nas minhas páginas, nem em redes sociais, porque eu, com certeza, estarei rindo, de orelha a orelha, por ter finalmente conseguido vaga no voo final.
Estou faz tempo esperando essa passagem, mas os voos andam com limite máximo, não há desistências, ninguém se atrasa pra me abrir vaga, e não quero ir no compartimento de bagagem, já estão cobrando caro por lá também.
No mais levarei saudade sim, de alguns que me completam, me arrancam sorrisos pelo simples fato de existirem... Dos que me fazem bem a alma.
Quanto aos outros, esses que usam a truculência como arma, a grosseria como palavras e o desamor como bandeira. Os que não tem medidas no desamor, na falta de cortesia, no vício da maledicência... estejam em que posição no meu tabuleiro de vida estiverem, não ousem chegar perto pra depositar suas lágrimas de crocodilo, continuem mantendo essa distância e afastamento que escolheram, a distância só está me fazendo bem, podem acreditar.
Toda a ausência dos brutos, dos maus, dos fingidos e dos falsos amigos será muito bem-vinda.
Quanto aos amigos de verdade, que esses sei quem são e agradeço a consideração e afeto, não se preocupem também em aparecer pra deixar seu pleito, de onde estiver receberei, direto na alma, seus recadinhos. E se possível os responderei em sonhos, e serei grata.
Morte não é fim, é só mudança de endereço.
E com certeza para um lugar bem mais aprazível e menos bagunçado que o planetinha aqui.
Bem... O pedido está feito. O recado mandado, e o papo foi reto!
[elza fraga]
Não preciso mais viver por aqui, começo a acreditar que cumpri meu ciclo, todos os sinais apontam pra isso. Quem me conhece direitinho sabe bem do que falo.
Só espero que os abutres disfarçados de gente amiga não venham pra cá dizer, mentirosamente, o quanto eu era boa e especial (e como faço falta).
Não! Não era boa, não sou, não serei. Se escapar do umbral, e peço isso em todas as minhas preces, já me darei por muito satisfeita. Uma vaguinha numa frisa lateral está de bom tamanho. E se tiver verde, e rosas de todas as cores, e bouganvilles, e passarinhos, e céu azul...
Acho que exagerei nos pedidos, rsrs, desculpe aí turminha que administra a transferência de plano.
Se tiver paz e música já estará confortável.
Mas bato na mesma tecla, não venham chorar nas minhas páginas, nem em redes sociais, porque eu, com certeza, estarei rindo, de orelha a orelha, por ter finalmente conseguido vaga no voo final.
Estou faz tempo esperando essa passagem, mas os voos andam com limite máximo, não há desistências, ninguém se atrasa pra me abrir vaga, e não quero ir no compartimento de bagagem, já estão cobrando caro por lá também.
No mais levarei saudade sim, de alguns que me completam, me arrancam sorrisos pelo simples fato de existirem... Dos que me fazem bem a alma.
Quanto aos outros, esses que usam a truculência como arma, a grosseria como palavras e o desamor como bandeira. Os que não tem medidas no desamor, na falta de cortesia, no vício da maledicência... estejam em que posição no meu tabuleiro de vida estiverem, não ousem chegar perto pra depositar suas lágrimas de crocodilo, continuem mantendo essa distância e afastamento que escolheram, a distância só está me fazendo bem, podem acreditar.
Toda a ausência dos brutos, dos maus, dos fingidos e dos falsos amigos será muito bem-vinda.
Quanto aos amigos de verdade, que esses sei quem são e agradeço a consideração e afeto, não se preocupem também em aparecer pra deixar seu pleito, de onde estiver receberei, direto na alma, seus recadinhos. E se possível os responderei em sonhos, e serei grata.
Morte não é fim, é só mudança de endereço.
E com certeza para um lugar bem mais aprazível e menos bagunçado que o planetinha aqui.
Bem... O pedido está feito. O recado mandado, e o papo foi reto!
[elza fraga]
CRESCER DÓI... ENVELHECER MATA
Conheci faz muito tempo uma jovem tímida. Que mentia. Escondia a timidez atrás de um nariz levantado e um sorriso desenhado nos lábios. Ela chorava rios, mas sempre nas quinas onde não havia possibilidade do pranto ser surpreendido.
Depois atarraxava novamente seu sorriso azul na cara e voltava sobre seus passos. E ela gostava de mastigar em azul seu riso porque era assim que ela imaginava o céu.
Depois atarraxava novamente seu sorriso azul na cara e voltava sobre seus passos. E ela gostava de mastigar em azul seu riso porque era assim que ela imaginava o céu.
Hoje ela aprendeu que sorriso bonito é branco, de nuvem que desmancha na boca. E que a lágrima que entra tem que encontrar uma porta de emergência, nem que seja escondida pelas escadarias do olho. E que não tem que se mentir a dor, porque essa escapa da alma pelos poros e pelos.
E descobriu também que não se deve escolher pessoas pra acompanhar a solidão da gente. A própria solidão se encarrega disso. E busca, atenta observa, até o dia em que nos conta em segredo sussurrado, se algeme agora, é esse o eleito. Muitos duvidam da sabedoria e da escolha, mas a solidão sempre soube que caminho tomar, que estrada dobrar, nessa caça.
E a menina cresceu e aprendeu que não é a embalagem bonita, a matéria estuante de vida, as noitadas ébrias de risadas histéricas, o encontro de corpos no cio, o movimento contínuo, que fazem a trilha. Não! O que faz a leveza, a duração da qualidade, a sensação de que tudo está no lugar exato e que é esse o nosso universo é exatamente o oposto. É o avesso de tudo isso.
É o olho que segura o outro olho, mesmo que já não haja mais o antigo brilho. É o corpo que respeita a passagem do tempo do outro corpo e, mesmo assim, ainda o deseja. É o conforto das mãos ainda dadas, uma fechada na outra, apesar da força do aperto ser menos urgente e mais necessidade adquirida, o contato está ali a mostrar que valeu cada segundo. É o sabor da taça de vinho saboreada até o fim, lado a lado, sem pressa, sem medo, apenas sorvendo cada gole como novo, como único.
É o olho que segura o outro olho, mesmo que já não haja mais o antigo brilho. É o corpo que respeita a passagem do tempo do outro corpo e, mesmo assim, ainda o deseja. É o conforto das mãos ainda dadas, uma fechada na outra, apesar da força do aperto ser menos urgente e mais necessidade adquirida, o contato está ali a mostrar que valeu cada segundo. É o sabor da taça de vinho saboreada até o fim, lado a lado, sem pressa, sem medo, apenas sorvendo cada gole como novo, como único.
Essa menina nunca perdeu a timidez, mas não mais a disfarça. Quando sorri seu sorriso, agora de nuvem, seus olhos se apertam e formam riscos que não moravam ali, mas ela não liga mais pra essas marcações da vida, apenas vive. Apenas segue. E quando sente o rosto quente se tingir de rosa não o esconde mais no queixo. Deixa que vejam e faz disso sua marca.
E finalmente encontrou a paz na companhia que a solidão lhe apresentou e lhe sussurrou um dia, pegue, se algeme, nunca mais se solte. Esta será sua prisão e sua guia, seu prado aberto e sua fronteira, sua sorte, sua vida inteira... E sua morte.
[elza fraga]
TERAPIA DO ABRAÇO
Tenho um amigo ateu até o osso... Nas vezes que o encontro discutimos filosofia, falamos com ironia de literatura, de música, de arte, ele cansa rápido, talvez medo que eu tente convencê-lo da vida pós morte. Aí busco seu abraço que dá claridade, como tem conforto o seu braço forte, abraço que abençoa, mas me calo, deixo em segredo, pra não perder a bênção, só fico ali, presa no abraço até me preencher da Luz que ele emana. Quando cada um vai pro seu lado e digo vai com Deus para um incréu, ele sorri e segue, eu paro na calçada até sumir seus passos.
Tenho um amigo negro de luzir... Nas vezes que o encontro meu sorriso brilha de ver sua alegria em sorrir pra mim. Como é bom seu jeito de menino grande, seu andar gingado, amo seu abraço. Quando ele parte meu olhar estica até que dobre a esquina com seu passo largo. Sinto segurança por toda uma semana, pois fico com as palavras mais fortes e amigas dançando comigo, como se ele fosse para um lugar distante, mas deixasse o abraço até o seu retorno.
Tenho uma amiga simples de dar gosto... Fala tão macio, sabe tudo um pouco, mas não se aprofunda, se poupa da dor, diz que quem aprende muito não consegue entender o que está por perto e fica com a cabeça permanentemente perdida na lua. Abraça apertado de doer costela, mas dá uma vontade de ficar pra sempre dentro do abraço dela, aconchegadinha. Quando parto, olho para trás até ter torcicolo, numa má vontade de ter que partir, até ela sumir nas sombras do portão. Sinto seu abraço até chegar em casa, é só fechar o olho e abrir a porta do meu coração.
Tenho uma amiga, menina ainda, nem sabe o que quer ser quando crescer... Quando ela me vê seu olhinho brilha tanto que me dá vontade de me enternecer e repetir, só pra mim, baixinho, a frase tão batida de Saint-Exupéry, que sou responsável pelo que cativo. Pede uma história que conto com gosto, me escuta atenta, só mãos inquietas, acompanha cada gesto pra não perder um ponto, uma reticência, um pulo do sapo, o passeio da princesa, nada lhe escapa. Antes de ir correndo para a brincadeira passa seus bracinhos na minha cintura, me abraça e diz um "upa", lhe respondo rindo que foi meu melhor abraço em um ano e meio.
Tenho um amigo poeta... Pensa que é louco porque pensa muito, mas acho até pouco tudo o que ele pensa, porque quando me conta do raio de luz que atravessou o céu vindo da estrela que ele acredita que seja a amada já perdida em outra vida. Batida de carro, sobrou muito pouco, só a dor, a poesia não escrita, e o soluço que sufocou a escrita. Ah, quando ele me abraça, transfunde poesia como quem doa sangue. E fico apertada de nó na garganta querendo prendê-lo dentro do meu braço pra calar o pranto que chora pra dentro. E sigo seus passos até a segurança do seu espaço, sem que ele perceba, para protegê-lo dos seus pensamentos e da solidão.
E quando penso nas pessoas que não tem nenhum abraço me dá uma vontade louca de sair repartindo todos os que ganho.
Mas me disseram um dia que gente grande tem vergonha de ser abraçado, eu não acreditei, mas não me arrisquei... ainda.
Mas me disseram um dia que gente grande tem vergonha de ser abraçado, eu não acreditei, mas não me arrisquei... ainda.
[elza fraga]
SER MULHER
Eu gosto de ser mulher.
Foi perfeito ter nascido dentro de um corpo feminino.
O que faria eu se homem fosse?
Não entendo a maior parte do que eles falam.
As vezes até me empenho muito, tento entender, mas eles pra mim são mistérios.
Mulher quando quer saber vai lá e pergunta. Se a resposta vier em código ela não perde tempo em decodificar, enche o saco até se fazer a luz.
Ah, homem não. Tem seus papos secretos, suas reuniões onde só macho entra, sua turma do jogo, sua turma do chope, sua turma da balada, sua turma da academia.
Mulher, se homem fosse, não ia se misturar com eles, ia mais era caçar umas gatas pelas noites de lua. Ela só se mistura porque é mulher e sabe que mulher tem que ter seus amigos machos. Afinal o que seria da nossa feminilidade sem eles por perto pra dar aquele cheiro gostoso no cangote?
E escrevi isso não para reclamar por não entendê-los, quero é agradecer mesmo o tanto que nos fazem de bem, só com suas presenças hieroglifamente benditas.
O dia em que a gente que é mulher, e gosta de ser, decifrar seus códigos, a brincadeira perderá a graça e o jogo acabará sem placar.
Um brinde aos homens que sabem deixar um sorriso bobo na nossa cara só com a lembrança do seu último gracejo elegante.
[elza fraga]
FALANDO FRANCAMENTE
Não me importo nem um grama com o que possam pensar a meu respeito.
Aos que me amam e me veem como criatura do bem, com mazelas e impurezas, mas batalhando a reforma íntima (com pressa por saber que o planeta não pode ficar sentado esperando que eu me mexa e comece a limpar as gavetas do ID)
saibam que não deixo o amor me tirar do foco.
Apenas sou grata.
Aos que me enxergam com defeitos - os que tenho mesmo e os que me inventam para complicar mais minha credibilidade com os que comigo caminham, não os repudio, ou desejo mal, ou devolvo as injúrias, ou julgo.
Apenas sou grata.
É direito de quem pensa pensar que conhece a alma alheia.
Nada me obriga a jogar o jogo de quem tenta tecer teias.
Mas nada me obriga a mantê-los ao lado na estrada da minha vida, não posso mudar de estrada, mas posso simplesmente atravessar a via, procurar companhias que harmonizem com o que acho certo. E o que acho certo é o não julgamento.
Experienciei quase todos os pecados existentes sobre o planeta Terra. Nunca afirmei a ninguém, nesse plano ou no outro, voto de santidade. Não finjo ser o que não sou. Talvez autenticidade seja o único item que contará a meu favor quando o acerto final começar pra valer.
Mas a cada engano identificado começava minha própria batalha para vencer o inimigo detectado. Se tive ou estou tendo sucesso na empreitada ainda não sei bem, meio confusa com essa correria do tempo que não ajuda a reflexão.
Mas de uma coisa sei, sou forte o suficiente para olhar para dentro do meu invólucro e, com honestidade, sem a mínima pena, esmiuçar uma a uma minhas imperfeições.
Caçá-las, até conseguir prendê-las na unha e - aí - as esmigalhar como se pulgas fossem.
O tempo para a reforma íntima dos moradores do planetinha azul, está se esgotando. Qual a sua escolha? Acompanhar o salto que o planeta está dando ou ficar perdido na estrada até o nunca mais?
Desejo a todos uma boa viagem aos seus interiores.
Namastê!
[elza fraga]
Aos que me amam e me veem como criatura do bem, com mazelas e impurezas, mas batalhando a reforma íntima (com pressa por saber que o planeta não pode ficar sentado esperando que eu me mexa e comece a limpar as gavetas do ID)
saibam que não deixo o amor me tirar do foco.
Apenas sou grata.
Aos que me enxergam com defeitos - os que tenho mesmo e os que me inventam para complicar mais minha credibilidade com os que comigo caminham, não os repudio, ou desejo mal, ou devolvo as injúrias, ou julgo.
Apenas sou grata.
É direito de quem pensa pensar que conhece a alma alheia.
Nada me obriga a jogar o jogo de quem tenta tecer teias.
Mas nada me obriga a mantê-los ao lado na estrada da minha vida, não posso mudar de estrada, mas posso simplesmente atravessar a via, procurar companhias que harmonizem com o que acho certo. E o que acho certo é o não julgamento.
Experienciei quase todos os pecados existentes sobre o planeta Terra. Nunca afirmei a ninguém, nesse plano ou no outro, voto de santidade. Não finjo ser o que não sou. Talvez autenticidade seja o único item que contará a meu favor quando o acerto final começar pra valer.
Mas a cada engano identificado começava minha própria batalha para vencer o inimigo detectado. Se tive ou estou tendo sucesso na empreitada ainda não sei bem, meio confusa com essa correria do tempo que não ajuda a reflexão.
Mas de uma coisa sei, sou forte o suficiente para olhar para dentro do meu invólucro e, com honestidade, sem a mínima pena, esmiuçar uma a uma minhas imperfeições.
Caçá-las, até conseguir prendê-las na unha e - aí - as esmigalhar como se pulgas fossem.
O tempo para a reforma íntima dos moradores do planetinha azul, está se esgotando. Qual a sua escolha? Acompanhar o salto que o planeta está dando ou ficar perdido na estrada até o nunca mais?
Desejo a todos uma boa viagem aos seus interiores.
Namastê!
[elza fraga]
CANSAÇO DE TUDO, CANSAÇO DE MIM...
(Texto de 31/03/16, e ainda é o mesmo do mesmo)
Sabe quando a gente perde as asas, tenta pousar na realidade do solo, e aí descobre, estupefato, que perdeu também o chão?
E meio perdido, meio zonzo, meio estranho, cansado de planar em vão, se deixa cair no abismo por pura estafa.
Única e última opção.
Cai, cai, cai, cai...
Uma queda que parece não ter fim.
E se desespera durante a despencada por entender que não parece apenas, realmente não tem fim.
E percebe que vai cair por toda a eternidade, sem solo, sem asas pra tentar subida, sem braços estendidos pra acolher e segurar antes que desça mais fundo.
O escuro cada vez mais denso, o medo cada vez mais alto, o fundo cada vez mais fundo e a alma cada vez mais apequenada, mais suja da poeira e da lama dos barrancos por onde se passa rente, tentando segurar em alguma pedra, algum galho, alguma esperança pequena que - alguém, na queda anterior a nossa, esqueceu nas reentrâncias dos montes barrosos.
Quando o corpo morre, a alma voa livre. Atravessa o Portal Mágico.
Tudo novamente na normalidade de um espírito indo de volta pra casa!
Triste é quando nos deixam o corpo vivo, mas matam nossa esperança e nossa alma, nos transformando em comandados zumbis.
Aí é só mesmo o abismo e seus terrores, os gritos que ecoam, o sofrimento que não se mensura.
E a imensidade da nossa covardia!
E meio perdido, meio zonzo, meio estranho, cansado de planar em vão, se deixa cair no abismo por pura estafa.
Única e última opção.
Cai, cai, cai, cai...
Uma queda que parece não ter fim.
E se desespera durante a despencada por entender que não parece apenas, realmente não tem fim.
E percebe que vai cair por toda a eternidade, sem solo, sem asas pra tentar subida, sem braços estendidos pra acolher e segurar antes que desça mais fundo.
O escuro cada vez mais denso, o medo cada vez mais alto, o fundo cada vez mais fundo e a alma cada vez mais apequenada, mais suja da poeira e da lama dos barrancos por onde se passa rente, tentando segurar em alguma pedra, algum galho, alguma esperança pequena que - alguém, na queda anterior a nossa, esqueceu nas reentrâncias dos montes barrosos.
Quando o corpo morre, a alma voa livre. Atravessa o Portal Mágico.
Tudo novamente na normalidade de um espírito indo de volta pra casa!
Triste é quando nos deixam o corpo vivo, mas matam nossa esperança e nossa alma, nos transformando em comandados zumbis.
Aí é só mesmo o abismo e seus terrores, os gritos que ecoam, o sofrimento que não se mensura.
E a imensidade da nossa covardia!
[elza fraga]
MILAGRE
Se respiro. Se ando. Se enxergo a luz. Se me banho ao sol todas as manhãs ouvindo o cantar dos pássaros. Se me molho de lágrimas e de chuva sem reclamar da cruz. Se deixo minha alma nua atravessar todas as fronteiras do imaginário. Se sonho e ainda mantenho no peito a chama da esperança acesa. Se o desespero não me fez de presa. E se continuo livre a correr os prados e a atravessar a correnteza. É porque não me condicionei e sentei clamando, quem sabe? - à natureza...
Não pedi, não implorei. Acreditei em Deus. Acreditei em mim.
E fui eu mesma meu próprio milagre.
Não pedi, não implorei. Acreditei em Deus. Acreditei em mim.
E fui eu mesma meu próprio milagre.
[elza fraga]
MITO
Anda - criança -
que te esquece
que há vida!
Que até te cansa
pra poder dormir...
que te esquece
que há vida!
Que até te cansa
pra poder dormir...
Anda que ainda não
viste nada
e quando grita teu sofrer
na madrugada
está egoísta pensando só em ti!
viste nada
e quando grita teu sofrer
na madrugada
está egoísta pensando só em ti!
Anda - menina -
caminha na calçada.
tropeça no bêbado da esquina.
Seja assaltada. espoliada.
Violada.
Sai para a vida
com os olhos do horror.
Gastaste o que a vida
nunca dá de graça...
Gastaste o amor!
caminha na calçada.
tropeça no bêbado da esquina.
Seja assaltada. espoliada.
Violada.
Sai para a vida
com os olhos do horror.
Gastaste o que a vida
nunca dá de graça...
Gastaste o amor!
Anda - mulher -
reclama tuas queixas.
Grita - louca -
tuas dores por aí...
Ninguém vai, sequer,
parar pra ouvir.
reclama tuas queixas.
Grita - louca -
tuas dores por aí...
Ninguém vai, sequer,
parar pra ouvir.
Descobre logo que o mundo
é traiçoeiro.
Bota a cara na rua,
fere o medo.
Abre o peito pra todo sofrimento.
Não faça toda a dor enclausurada...
é traiçoeiro.
Bota a cara na rua,
fere o medo.
Abre o peito pra todo sofrimento.
Não faça toda a dor enclausurada...
Mata o segredo!
Porque estas lágrimas
que te escorrem cara a fora,
não são nada comparadas
as que choram
as pessoas bem mais tristes
do que és triste!
que te escorrem cara a fora,
não são nada comparadas
as que choram
as pessoas bem mais tristes
do que és triste!
Não vês, burra,
que a felicidade não existe
e é apenas um mito que inventaram
para ajudar a suportar o sofrimento?
que a felicidade não existe
e é apenas um mito que inventaram
para ajudar a suportar o sofrimento?
Toma juízo - Elza -
ainda dá tempo!
ainda dá tempo!
[elza fraga]
Poema antigo com algumas adaptações
quinta-feira, 2 de março de 2017
HOSPEDAGEM
Eu te proíbo de partir daqui/ meu coração já arrumou o leito/
e só por hospedar-te enfim/
o meu peito não acerta um jeito/ de novamente se caber em mim.
[elza fraga]
e só por hospedar-te enfim/
o meu peito não acerta um jeito/ de novamente se caber em mim.
[elza fraga]
NADA SERÁ COMO ANTES
Chegou/ e me trouxe um sorriso de sábado/ um livro/ uma rosa de prenda/ uma agenda na mão/ marcando o dia/ em que trouxe a alegria e a vida/
Partiu/ esquecendo a agenda na mesa/ e a certeza/ de que nunca mais/ serei a mesma.
[elza fraga]
NEM SEI
Nem sei de onde vem essa vontade/ de estender a alma na janela/ ao sol da tarde que mornamente ainda arde/ e avermelha o tom da minha pele/
Nem sei de onde vem esse ruido/ que me invade a concha do ouvido/ e se faz música/ e dança com meu corpo/ como se fosse eu um tronco oco/ no meio de floresta/
Nem sei de onde surge soberana/ a sua voz que me envolve toda/ e arrepia cada poro/ cada pelo/ cada fio de cabelo/ e que me prosta a seus pés como uma serva/ que se conserva/ silenciosa a espera do comando.
Nem sei de onde surge esse canto que enfeitiça/ e que me levita até o seu abismo/ e me faz mergulhar no oceano/ sem fazer planos/ sem cogitar de inflar meu salva-vidas/
Nem sei de onde surge essa hipnose/ que me desdita/ me suga a vida/ me traça o corte/
só sei que é morte!
elza fraga]
Nem sei de onde vem esse ruido/ que me invade a concha do ouvido/ e se faz música/ e dança com meu corpo/ como se fosse eu um tronco oco/ no meio de floresta/
Nem sei de onde surge soberana/ a sua voz que me envolve toda/ e arrepia cada poro/ cada pelo/ cada fio de cabelo/ e que me prosta a seus pés como uma serva/ que se conserva/ silenciosa a espera do comando.
Nem sei de onde surge esse canto que enfeitiça/ e que me levita até o seu abismo/ e me faz mergulhar no oceano/ sem fazer planos/ sem cogitar de inflar meu salva-vidas/
Nem sei de onde surge essa hipnose/ que me desdita/ me suga a vida/ me traça o corte/
só sei que é morte!
elza fraga]
domingo, 19 de fevereiro de 2017
PARA O QUE ME ILUMINA
(PARA MINHA SEMENTINHA DE LUZ. MEU PÉ DE FLOR, MINHA COLHEITA)
Com certeza amo muito além do que vejo.
Amo seu ar meio tristonho, seu sonho de menino, sua adultice perigosa, sua ideia de que a vida é só uma roda que gira pra triturar nossos caminhos.
Amo o que carrega transbordante dentro desse peito que é bem mais gigante do que imagina em seus delírios, e que me oferece como quem oferta fino vinho.
Amo a delícia do seu lábio que triunfante me faz pequena e assustada nos seus braços nem tão meninos mais.
Amo seu jeito de evitar palavras duras como nunca e jamais.
Amo a intensidade do olhar que me envolve e me bombardeia com a luz que ainda existe na sua retina.
Amo a tarde mansa que me traz, junto com seu rosto, de presente. E os vincos que mostram que a vida não lhe poupou as experiências da estrada.
Amo tudo que compõe esta sua aura, colorida, brilhante, atuante sobre meus sentidos.
Amo seus ritos, sua maneira doce, coordenada, planejada, de dar e receber amor.
Amo sua vinda, sua volta, seu estacionar em mim como quem não quer mais sair da rede. Amo a sede com que bebe na minha fonte.
Amo a ponte que traçou com os seus dedos bem no meio do meu medo, do arrepio do meu contorno.
Amo o miolo, a essência e o entorno.
Amo a carne quente e o hálito frio, o começo meio e fim.
Amo as minudências, os desvarios, o todo!
E tolo seria você se não acreditasse em mim.
[elza fraga]
sábado, 11 de fevereiro de 2017
ETERNO
Você me quis
durante sete luas
e eu me fiz
sua
ah... e foi tão belo
quase dois meses
de amor eterno.
[elza fraga]
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
O DESCONHECIDO
Mesmo que a vida seja
amargura
de gostos não provados
acidez de beijos
não roubados
sal de suor
em corpo rendido
sem nenhum carinho
mesmo assim
como é ainda
dolorida
a falta
do desconhecido
deixado no caminho.
[elza fraga]
domingo, 29 de janeiro de 2017
FIM DE FESTA
Não sei quando vai acabar a minha festa de vida, mas já estou na quinta saideira e ainda não estou bêbada, nem cansada, e nem sinto nada parecido com ressaca ou com canseira.
Acho que aguento a prorrogação, com o coração na mão - com certeza, mas sei que tenho perna pra mais jogo, mais corredeira.
Se o danado do destino não vier com suas sutilezas terei tempo para mais alguns retoques na minha história, um último drinque numa praia qualquer, um por de sol bonito de se admirar com o moreno ao lado, uma espera de ver estrelas deitada na areia, um susto com a beleza de mais uma lua cheia, um alvorecer alvoroçado de passarinhos em gorjeios, talvez um carinho ousado, e uma despedida com bom vinho.
Até pra sair da vida tem que se caprichar no figurino e no estilo, senão melhor morrer como pássaro que levou lambada de atiradeira, na beira da estrada, caída em alguma vala, sem eira nem beira.
[elza fraga]
NÃO SE É POETA POR GOSTO
Ninguém é poeta porque quer, por conta própria, por gosto... se é poeta por mister, por sina, por desgosto, desses desgostos profundos que costumam acabar com o mundo interior.
Só é poeta quem mergulhou fundo na vida em dias de tempestade, se molhou inteiro, lavou o suor e a lama na chuva bendita, feriu a alma com o claror dos raios, ensurdeceu com o ribombar de mil trovões e, mesmo assim, voltou e se secou ao sol, lambeu feridas, se restaurou e fez do que era triste uma nova chance de vida.
Só é poeta quem foi escolhido a dedo pelo tormento e pelas tormentas, quem escapou mas manteve a cicatriz,
quem não se envergonha de se mostrar a nu até o osso, que ousa tudo, quem sabe até onde vai a dor e a alegria, quem cheira o ar e fareja o sangue, e o medo.
Só é poeta quem andou muitas estradas e percebeu que teria que voltar todo o caminho, e refazer cada passo, e abandonar o ninho construído - com pena do sacrifício - mas não se rebelando ao destino que joga o poeta ao relento.
Só é poeta quem ama, quem doa, quem se descabela e arde.
Só é poeta quem sabe escrever poemas com a carne!
[elza fraga]
sábado, 14 de janeiro de 2017
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
SOBRAS
Depositei
nos seus ouvidos
meus segredos
mais escondidos.
Depositei
nas suas mãos
inteiramente rendido
meu coração.
Depositei
nos olhos seus
meus olhos, meu riso,
minha oração.
Depositei
na sua boca
por mensagem secreta
a língua mais louca.
Agora
que já dei tudo enfim
responda depressa
o quanto me resta
ou quando virá
devolver
as sobras
de mim.
[elza fraga]
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
EM COMPASSO DE ESPERA
O mundo ficou todo
anil
quando você abriu
a porta
anil
quando você abriu
a porta
e surgiu
beijou a testa
dessa quase morta
e depois partiu
dessa quase morta
e depois partiu
fez-se o milagre
o sangue agora pulsa
no pulso que espera
o sangue agora pulsa
no pulso que espera
sem revolta
o correr das estações
o estacionar
da primavera
o estacionar
da primavera
e a sua volta.
[elza fraga]
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
AS PARTES QUE NÃO MAIS NOS CABEM
A gente era tão diferente, um dia - por acidente, demos um esbarrão. Vacilei e fui ao chão.
Deixei preso, em tua mão, um coração impotente sem saber se defender do teu jeito, do teu cheiro, do teu charme, teu tempero,
e aí fiquei refém.
E desde a bendita colisão não sei mais quem é que parte, qual parte que me detém e qual é a parte que te cabe.
Misturamos bem as partes, na maior identidade, somos agora, e pra sempre, a parte que não dá conta de saber qual foi das partes que se quedou no entrave, qual parte cada um leva desse estranho resgate,
desse inicio de rescaldo depois do fogo domado.
desse inicio de rescaldo depois do fogo domado.
Qual de nós dominador?
Qual de nós dois dominado?
Qual de nós dois dominado?
[elza fraga]
domingo, 8 de janeiro de 2017
FIM DE CAMINHO
Caminhei por ruas e vielas
nuvens baixas desenhavam
o céu,
no chão,
seria incapaz de dizer
se era dia, noite, madrugada,
se fazia frio, se chovia, se nevava,
se havia juízo ou razão
a acompanhar meus passos,
se havia mais alguém
vagando nas calçadas,
se havia alguma alma
ainda em mim,
se havia espaço pras loucuras que
- sabia, viriam
assim que terminasse a trilha
em ribanceira, em fundo de abismo.
E chegou enfim o fim da estrada,
o abismo dos teus braços,
o teu abraço quente envolvendo tudo
em mim...
e eu juro por ti
que estou infeliz aqui
mas também juro
que é a dor que eu pedi,
ela me dilacera, me atormenta,
me estraçalha, me distorce em partos...
mas não parto mais
do teu regaço
por mais
que me morra cada dia
mais um pedaço.
[elza fraga]
sábado, 7 de janeiro de 2017
DESBRAVANDO A VIDA
Você esconde segredos,
eu ando indecentemente
sem os véus.
eu ando indecentemente
sem os véus.
Você esconde seus medos,
eu corajosa
me jogo no vento,
ardo ao léu,
exibindo prosa
e verso
no tempo.
eu corajosa
me jogo no vento,
ardo ao léu,
exibindo prosa
e verso
no tempo.
Você se encolhe
e escolhe calar neuras,
eu exponho
a carne farta revestindo
nervos
até o osso,
os seios,
a saboneteira,
o esguio do pescoço.
e escolhe calar neuras,
eu exponho
a carne farta revestindo
nervos
até o osso,
os seios,
a saboneteira,
o esguio do pescoço.
E então me entrego,
me esfrego,refém
até o caroço
nos seus esconderijos,
seu moço...
me esfrego,refém
até o caroço
nos seus esconderijos,
seu moço...
que nesse seu escuro
ninho,
nessa sua pele com sabor
de vinho,
macia, arredia,
ninho,
nessa sua pele com sabor
de vinho,
macia, arredia,
se perder
é achar o caminho
de novo
é achar o caminho
de novo
o dia inteiro
todos os dias.
todos os dias.
[elza fraga]
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
DANÇANDO COM A VIDA
Venha vida,/ atenda o chamado da minha mão,/ me preencha de luz,/ me completa, me seduz,/ me arrasta pelos seus dias de sol/ e pelas suas madrugadas./ Não me deixe só/ e perdida na estrada,/ me gira, me tira pra dançar/ nesse seu baile de cores,/ sou apaixonada por todos os seus rodopios,/ pelos seus arrepios de frio na nuca,/ pela sua mania maluca/ de me surpreender com coisas inesperadas./ Venha, vida,/ ser minha eterna namorada,/ me segura no voo,/ me ascenda, me acenda,/ rodopia comigo,/ e me livra para sempre/ da beira do abismo,/ me prenda colada ao corpo de memória/ na página primeira do seu livro de história/ tentarei lhe reter também/ enquanto ainda presto, /enquanto tiver dança nos meus gestos,/ amém.
[elza fraga]
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