QUEM VEM COMIGO

domingo, 31 de julho de 2016

DEVOLUÇÃO





Só aceito a oferta
da “sua” flor
se vier galhada,

num vaso cheio de terra
boa e adubada,

se a trouxer arrancada,
mutilada,
desamparada
sem suas irmãs de raça,

volta com ela
faz um funeral e a enterra

talvez renasça!

[elza fraga]

sexta-feira, 29 de julho de 2016

MÃO


Mão feita de feios e pequenos dedos. Não há como não amar a minha mão, mão que me acalenta, me coça a cabeça enquanto diz:
"Vai ser feliz enquanto ainda dá tempo. A sorte é curta, a morte é certa, e o resto é só conversa de infeliz! Você se basta, saia da casca... saia da casca...
Lá fora espera seu amigo sol brincando com o vento.
Anda, corre, voa. Há vida além dessas montanhas, o mundo é vasto, é largo e é feito de jardins, saia da segurança do abrigo, liberte o coração, cheire seus jasmins e suas rosas.
O muro que enxerga é a prisão e é só ele que impede a autonomia da sua mão."

[elza fraga -- saindo para ver á-vida]
IMAGEM: Mão de elza fraga em clique próprio

quinta-feira, 28 de julho de 2016

COMPROMISSO



Casei-me com o poema
mas como esse doido
é promíscuo,
se dá por qualquer
noitada,
luar, bebida, chamego,
inspiração ou cachaça,
qualquer besteira
lhe arrasta,

não serve pra compromisso
namorante?
Isso talvez.

Mas separar-me de vez?

Nem cogito...
prefiro mil traições
a viver no antigo medo
das noites de solidão.

[elza fraga]


MEDO



Na tua garganta
meu nome
pássaro preso,

antevejo,
escuto o grito

sufocado,

não posso
estar contigo,

não posso ir


te abraçar
e libertar
o teu segredo

‘inda me prendo
 ao medo

‘inda me prendo
ao medo...

[elza fraga]

Poema de 2007 ''remodelado''.

DAS DORES DA GAIOLA



Um ombro, por favor,
um ombro,
pra ajeitar
na sua curvatura
a dor
que me devastou
inteira,

devorou
minha estrutura,

a alma segue
em quietude
e chora manso,

não se iluda
quando canto,
não se iluda...

a ferida,

veja! -

‘inda viva,
‘inda lateja,

a grade da gaiola
me prendeu
a asa,

só venha
com seu ombro

me cura

e se cala...

[elza fraga]

sábado, 23 de julho de 2016

SUBTERFÚGIO




-O que você faz, 
moça?
-Só poesia mesmo.
-E isso dá dinheiro,
fama, reconhecimento?
-Não! Só dá gosto,
alívio, prazer,

prensa ferida,
e é a única forma
que achei na vida
de jogar desgosto
fora
sem ninguém
saber.
[elza fraga]

ARCO E FLECHA



Sabe?

A poesia cabe
na palma da mão 
do poeta
na pena que age
célere
e se faz escrita
mas cabe
bem mais
no coração
de quem fica
com o olho perdido
no cais
o poeta é só o arco
que atira
a seta
no alvo!
[elza fraga]