QUEM VEM COMIGO

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

CONJUGANDO DÚVIDAS



Amar é condicional?
Incondicional?
Eterno ou transitório?
Normal?
 
Pra poucos escolhidos?

...Se ama amigo
ou só se ama amante,
ficante,
namorado?
Filho, marido,
agregado?

É verbo ou
pode ser adjetivo?

...Se colorido
qual a sua cor?
Tem nuances,
tons suaves,

seria incolor
e transparente,
talvez um cinza triste,

ou raia no vermelho quente?

Se é que existe!

[elza fraga]

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O ESTRANHO



Tinha olho de borboleta
no momento da espera
na espreita
de colher a primavera,

sorriso de colibri
a adejar,
tentando molhar o bico,
num frenesi
de asas,
no doce das águas,

a calma do mar
na enseada
desaguando
a praia mansa
na alvorada,

e o corpo quente
das manhãs de verão
quando o sol,
inclemente,
castiga o vivente
até a exaustão.

Coração?
Tinha não!

[elza fraga]

Imagem: Internet

EU NÃO SOU DAQUI



Fera acuada
perdida na cidade
o trânsito
de gente comportada
 
me engole
e me desorienta.

Recuo,
me curvo
a estabilidade

e volto
perdendo a liberdade
pra jaula

clausura
no apartamento.

[elza fraga]

ESTARDALHAÇO

 
 
Imagem: O Grito de Edvard Munch


Berra
sem covardia,
esperneia,
reclama
 das tempestades,
da agonia,
 
com vontade

até saltar o olho
esbugalhando
a cara

tenha ousadia!

É pela veia
que entra o veneno
que mata
quando se é ameno,

a vida não protege
e nem alivia
o que se esconde
dela

por apatia.

[elza fraga]

Imagem: O Grito de Edvard Munch

domingo, 19 de agosto de 2012

HÓSPEDES



Quando conto
é sempre curto,
incisivo,
fraseado pouco
...
e ponto.

Quando poemo
me estendo
espreguicenta
na varanda
dos versos,

caminho inverso,

um desfiar
de não querer
acabar nunca

não se despedem
não sentem frio
não sentem fome
não sentem sono

ficam por aqui
rondando minha insônia
neste ir e vir

sem ficar
de vez
e se permitir
e se escrever,

e sem partir.

[elza fraga]

terça-feira, 14 de agosto de 2012

VOLITIVO



Tudo tão tenso.
 
Já se pode
prender
dentro das mãos
 
o fio esticado
e eriçado d'alma,
a intemperança,
a impaciência,

a velocidade da fuga.

Nada mais é volátil
ou controlável,
o irreal tomou conta
das ruas.

Olho para os
quatro lados
espio pelas nesgas do concreto
nem em suas
paredes nuas
nada é certo

só o medo,
constante e amigo,
vinca mais e mais
a profunda ruga
que rasga a testa
e resseca o grito

não há abrigo
seguro
deste lado do mundo.

Penso em outras mudanças
pras nuvens
pra esperança
mas todos os voos estão lotados
há de se aguardar
é longa a fila

de espera

me iludo
com a chance irreal
de uma desistência
ocasional

e um lugarzinho na janela.

[elza fraga]

terça-feira, 7 de agosto de 2012

PAUSA PARA DESCANS-AÇÂO


De vez em quando
mando
meu coração voar
pela janela
dos olhos

e procurar
além dos abrolhos
porto seguro,
praia em calmaria,
pra deitar um pouco
minha alma

recuperar a calma

espantar a agonia

com que o mundo
[com seus buracos
negros e profundos]

nos propicia

sem a mínima
economia!

[elza fraga]

O QUE TE DOU DE MIM



Sou feita
de amenidades,
de coisas bem pequeninas.

Nada muito elaborado
dentro deste meu tacho
de anciã, mulher, menina...

Minha alquimia impura
é mistura de manias

desencontradas,
vazias.

Não sou ouro
não sou prata

sou remendada
de lata
onde a fervura esgarçou

só o roto coração
soldado
com um raio de sol
tirado

de pleno verão
é que trago
de valor

pra colocar na tua mão.

[elza fraga]

MINAS GERAIS


[Encomendas ao meu irmão]

Quando voltar
da Minhas Gerais
me traga

de lembrança,
por favor,

o correr do rio
desde a nascente,
desenhando a montanha,
uma semente
de café
um queijo bom
em forma de pão,
um doce de leite
e um de mamão,
na memória
e na sua história
de raiz mineira,

traga-me o cheiro
que só lá existe
das manhãs

e se ainda
tiver espaço na bagagem

Traga-me a viagem
transbordando pelo olho

e nem precisa dizer nada

apenas traga!

[elza fraga]

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

FENIX-ANDO



Cantarolei
a música
que foi criada
 
quando O Criador
moldava
a minha alma

varei o tempo
com o som

foi duro descobri-la
e acertar o tom.

Meus ossos foram
se realinhando
com a cantiga
minhas veias
bombeando
sangue novo

desvesti a pele antiga
sai parida

e me reinventei
pela milionésima vez

...agora é só colher
o sorvo

e absorver a Vida.

[elza fraga]

QUANDO ME CALO



As vezes,
olhando pra dentro,
me vejo
um turbilhão de pensamentos

desencontrados,

tento escoar
toda esta lava intensa
mas a boca cala,
não consente
que eu diga
o que a alma sente
e a mente pensa
incessantemente.

Fico calada,
inflando,
e vou me conformando
com o tempo,

pois a explosão
já está
anunciada

vindo com o vento.

[elza fraga]

ALADA



Eu sei
que posso
atravessar voando
este rio

que empata meu caminho.

Triste rio
obrigado a nadar
num desafio
correndo para o mar
até não ser
mais nada
além de um fio
 
no torvelinho.

Ele é sozinho

enquanto eu
sou toda asas
a levantar
o pouco peso

...Não fosse o medo
de ousar
e trocar
o meu segredo

[perdendo a liberdade]

pelas algemas
no solo do degredo.

[elza fraga]